Em um lago tranquilo, na base de uma montanha, viviam alguns animais em perfeito equilíbrio com suas naturezas.
Os Peixes nadavam, se divertiam com o sol e com a chuva que brincava na superfície limpa da água.
Ali também viviam um solitário Caranguejo, que não incomodava a ninguém e uma Garça cobiçosa de toda aquela fartura de peixes do lago. Volta e meia, apesar de sua imensa preguiça, a Garça voava por sobre o lago e, num mergulho, apanhava com o bico fino e longo um desprevenido peixe, que era com gulodice devorado - mas que jamais saciava a sua imensa fome.
"Pobre de mim!" - pensava ela - "Tanta fome que tenho e é preciso tanto trabalho para saciá-la... Estou cansada! Como seria bom se os peixes pulassem, por sua própria vontade, direto no meu bico!" Foi então que lhe veio uma brilhante e maquiavélica ideia - e a Garça foi logo colocá-la em prática.
-Adeus, meus caros amigos! Adeus! De hoje em diante nunca mais nos veremos, pois estou me mudando antes que o pior aconteça... - disse a Garça, dirigindo-se aos peixes.
- Mas, que "pior" é esse ao qual a senhora garça está se referindo? - perguntaram, preocupados, os peixinhos.
- Ah, mas vocês não sabem? O bicho Homem está vindo aqui, para este lago, para construir mais uma de suas edificações. Em breve, muito breve mesmo, este lago será drenado e todos vocês irão morrer uma morte horrível! Pena que me encontro tão velha e cansada, senão carregaria todos vocês para o lugar maravilhoso para onde estou me mudando - um lago magnífico, no alto da montanha, onde o bicho Homem nunca vai se interessar em morar...
Os Peixes, desesperados, não sabiam o que fazer, pois não tinham para onde ir, nem como se locomover.
A Garça, então, fazendo ares de bondade, se ofereceu para levar um de cada vez, dentro do bico, com a intenção de salvar o máximo de peixes que podia.
Aclamada como salvadora pelos peixes, a Garça começou a levar no bico, um a um, vários peixes que imploravam e agradeciam, indo lá para o alto da montanha.
O Caranguejo, que era muito desconfiado, pediu para a Garça que o levasse também, pois já tinha levado muitos peixes.
A Garça, com certo fastio de comer tanto peixe, achou que seria uma boa pedida comer agora um suculento caranguejo e apressou-se em fisgá-lo com seu bico.
Levado até o alto da montanha, o Caranguejo logo percebeu a enorme quantidade de espinhas de peixe pelo chão e, antes que a Garça pudesse matá-lo a bicadas, apertou o pescoço dela com sua garra mais forte e a matou.
Lentamente em seu passo, andando de lado, o Caranguejo desceu da montanha e contou aos peixinhos todas as maldades da Garça e o seu merecido fim.
Assim é na vida: quem faz o mal, cedo ou tarde encontra em seu caminho quem lhe dê exatamente o que merece...
(Malba Tahan - de novo... Adaptação minha)
Detalhe: é dessa fábula que saiu a expressão "ser levado no bico", significando ser ludibriado, enganado...
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