sábado, 10 de outubro de 2020

Um coração muito longe de ser bom


 

Há muito tempo atrás havia uma mulher de trinta anos chamada Rosa que tinha três lindos e doces filhinhos mais um marido que trabalhava em CINCO empregos prá poderem sobreviver e pagar a casinha recém comprada. 

Essa mulher tinha olhos fundos de muitas e muitas noites mal dormidas, trazendo processos prá serem analisados madrugada adentro até as 2, às vezes 4 da madrugada. A casa ainda nem estava toda pronta: sem dinheiro prá comprar uma porta que fechasse a casa e a separasse da área de serviço, isolsndo-a dos perigos que rondam à noite, a mulher tomava café prá se manter acordada e volta e meia era assustada por algum gato da vizinhança que vinha atrevidamente andar pela casa...

Depois de amamentar muito os três filhos que havia tido, um atrás do outro, a mulher tinha também o rosto encovado, pesava pouco mas tinha os braços e pernas muito fortes - pois a luta diária é a maior das academias. 

Fazia tudo dentro de casa sozinha - limpava, cozinhava a comida dos filhinhos de madrugada, antes de ir trabalhar, voltava 6 horas depois, alimentava as crianças, comia o que sobrava da alimentação deles (com pressa) e corria feito louca durante a tarde prá dar conta de tudo: lavar roupas sociais do Marildo (duas mudas de roupa por dia), cozinhava seu jantar caprichado (única refeição do dia do pobrezinho) e então se sentava com os filhos, assistindo um pouco de tv, ajudando-os nas lições e trabalhos escolares. 

Quando as crianças então dormiam ela se sentava na mesa da cozinha, pegava as duas pesadas caixas de papelão cheias de processos de aposentadorias pra serem analisadas - verificar a validade de documentos, contar períodos de trabalhos insalubres, contar contribuições de carnês, rascunhar correspondências a empresas e sindicatos a fim de verificar a veracidade de registros rasurados nas carteiras de trabalho...

O Marildo - como eu disse - trabalhava em cinco empregos. Era funcionário público, trabalhando das 9 as 17:30. Mas antes de comparecer nesse trabalho, ele acordava às 5 da madrugada e dava aulas de estágio de Direito Constitucional numa faculdade - aula feita prá acontecer das 6 as 9 da manhã (pois era essa a disponibilidade dele e essa faculdade queria muito que fosse dele essa matéria...). Chegava sempre meia hora atrasado no serviço público, com o conhecimento das chefias - e cumpria essa meia hora no período do almoço que ele não fazia. 

Às 12:30 ele saía e pegava os filhos na escola e ia buscar a mulher na porta do trabalho, correndo feito louco prá poder voltar pro trabalho e não ficar devendo horas prá ninguém.

Chegava às 18 horas, fazia sua única refeição de pé - apesar da mulher dizer que comer tão rápido lhe faria mal, que também dava prá comer rápido sentado... Em menos de quinze minutos ele já estava tomando banho, trocando de roupa e indo pro terceiro emprego em outra faculdade, dar aulas de Direito Administrativo.

Mas chegava o final de semana e prá nenhum dos dois havia descanso: no sábado ele dava aula em um cursinho preparatório prá concursos no centro de São Paulo, voltando perto da uma da manhã, pois eram várias turmas e ela, alem da faxina pesada da semana, ainda o ajudava a formular provas, digitar apostilas e corrigir trabalhos... 

No domingo de manhã ele fazia serviço voluntário - coisa que não parou de fazer até hoje e que ele diz renovar-lhe as energias prá viver e trabalhar e, depois de um almoço rápido, lá ia ele pro quinto emprego, também num cursinho preparatório prá concursos, desta vez em Guarulhos.

Tanto o pobrezinho corria e tão pouco se alimentava que um dia passou mal enquanto estava dirigindo e por proteção divina parou o carro num acostamento da via Dutra, evitando uma tragédia, e ali perdeu os sentidos.

Acordou no Hospital Carlos Chagas, tendo sido socorrido por um bom samaritano que ainda voltou prá buscar seu carro e o deixou estacionado no hospital...

Pagaram sempre em dia as prestações da casa - conseguiram finalmente comprar a porta que faltava para protegê-los dos perigos do mundo lá fora e, aos poucos, foram fazendo melhorias, sempre aos pouquinhos, sempre trabalhando e economizando muito.

Sempre que batia alguém precisando de ajuda na porta eles ajudavam com o que tinham e, às vezes, até "cortavam na carne" prá poder fazer isso...

Havia uma moça em especial que a mulher ajudava com tudo o que podia:

Uns bons dez anos mais jovem que a mulher, essa moça aparecia na porta vestida praticamente de trapos sujos. Seus peitos enormes pendiam soltos por debaixo da camiseta ralinha, a enorme barriga grande escondida numa saia comprida e cheia de remendos.

Um bebê no colo, menino. Duas meninas andando de mãos dadas, um ano no máximo de diferença entre as crianças. E dizia que estava grávida de novo.

Eu - pois que a mulher era eu mesma, como vocês já desconfiavam - sentia uma pena enorme da moça...

Acho que esse é o problema com a pena: a gente acaba automaticamente se colocando numa posição superior à daquela pessoa de quem sentimos pena. "Aqui estou eu, que estou melhor do que você, e assim sendo vou te ajudar prá deixar de me sentir culpada por ter uma vida melhor do que a sua".

Madre Teresa era diferente, provavelmente. Eu nunca tive queda prá ser freira, mas tive uma boa criação católica e todos sabemos o quanto de culpa sentimos por conta de quase tudo. Mea culpa, mea máxima culpa e etc...

Pois toda vez que essa moça vinha eu lhe dava arroz, feijão, leite e  pacote de biscoito prás crianças, óleo, café, macarrão, óleo prá cozinhar, um pedaço de queijo... Roupas. Sapatos. Sapatinhos. Absorvente, sabonete... Às vezes até dava frutas... Dei a ela meu carrinho de fazer feira - senão como ela iria levar tudo aquilo? 

Ela vinha toda semana, a barriga cada vez maior.

Uma bela tarde eu estava na casa da minha mãe - a máquina de costura dela não estava funcionando e eu havia ido lá prá desmontar e lubrificar as peças, como normalmente eu fazia...

Escutamos bater palmas na porta, minha mãe espiou na janela e falou: "Já vai!".

"Rosa, deixa eu ir lá fora levar um pouco de comida prá essa moça. Ela sempre passa aqui, pobrezinha, eu sempre ajudo. Pena que tô precisando fazer compras, nem fiz feira no domingo. O Tato deve tá voltando do Cobal então tenho pouco prá dar... Mas pouco é sempre melhor do que nada, né?"

Minha mãe dividiu em dois o restinho de arroz que tinha no pacote, pegou dois ovos e 1/4 de um repolho e foi lá levar prá moça.

O som entrou fácil pela janela aberta, através da cortina de renda fininha.

"Que porcaria é essa que a senhora tá me dando? Não vê quantos filhos eu tenho? Enfia no "u" essa merda!"

Eu voei - devo ser uma bruxa, afinal de contas. 

No caminho agarrei a vassoura de varrer o quintal, a moça me viu e saiu correndo.

Eu tenho um coração que parece normal nos exames mas, escondido dentro dele, tem um pedaço de granito bem duro e pesado - infelizmente prá mim.

Alcancei fácil a moça na rua, agarrei-lhe o braço e ela se virou prá olhar prá mim e, como se nada tivesse acontecido, sorriu com aquele sorriso 90% banguela e falou:

"Oi, moça, eu já tava indo lá na tua casa, tô precisando de tanta coisa prás crianças..."

Eu, fuzilando de ódio, praticamente rosnei na cara dela:

"Onde foi que você mandou minha mãe enfiar a comida que ela ia te dar?"

"Sua mãe? Eu não conheço a tua mãe..."

"É a senhora daquela casa ali, a que tá no portão!"

"Ah, aquela... Mas olha, eu não mandei enfiar nada não, tua mãe deve ter entendido errado!"

"Errado meus ovos! Você mandou ela enfiar a comida que ela ia te dar no 'u' mesmo, eu ouvi, sua safada sem vergonha!"

"Mas... Mas... Moça, você é tão boa, você sempre me ajuda tanto!"

"A-JU-DA-VA! Nunca mais apareça na minha porta! Melhor ainda: Nunca mais apareça nesta vizinhança! Se aparecer vai tomar uma surra de vassoura na frente dos filhos! Sua pilantra! Se precisasse de ajuda mesmo não desdenhava da doação da minha mãe! Ela não é rica não! Ela dividiu meio a meio com você tudo o que ela tinha em casa, sua sem-vergonha! Agora chispa daqui, nunca mais quero ver a tua cara!"

E até hoje eu lembro do rosto assustado das crianças.  

Eu fui um monstro. Eu, volta e meia, sou muito, muito monstruosa...

E não pensem que eu aprendi minha lição após ver aqueles rostinhos assustados, pelo contrário. Aquela pobre moça ficou gravada da pior forma dentro de mim: a partir dela fiquei com o pé atrás prá quem aparece e especialmente pra quem volta repetidamente a pedir coisas na minha porta...

Tem uma mulher fortona que sempre aparece pedindo dinheiro prá comprar remédios prá Aids, Câncer... Eu chego perto, peço prá olhar a receita, onde os nomes dos medicamentos são meus velhos conhecidos: nomes genéricos emitidos por algum médico de posto de saúde, Dipirona, hidroxido de alumínio, prednisona... Coitada, tentando enganar com esses nomes genéricos uma mulher praticamente especialista em dor, azia e inflamações e medicamentos... Eu digo isso prá ela, que esses são medicamentos comuns e não medicamentos caros prá doenças que ela não tem, que ela devia sentir vergonha de ser tão jovem, grande e forte e viver pedindo dinheiro pros outros e ela sai me xingando de tudo que é nome feio...

Pior é que ela volta tempos depois - deve andar por tantos lugares e se esquece dos rostos - e tenta aplicar de novo o mesmo golpe - dessa vez ela fez um transplante e precisa de remédio prá rejeição - tá sempre faltando 50 reais prá inteirar o dinheiro.

E eu digo: "Moça, você tá precisando se benzer, cada vez que você vem aqui tem uma doença grave diferente! Tem que procurar um médico melhor também, esse ai só te prescreve balinha...

E novamente ela vai embora me xingando.

Tem um outro que aparece aqui e eu desconfio que seja marido dela. Ela começou a rarear as visitas e ele passou a vir. Ele sempre diz que é meu vizinho "daquela outra quadra", diz que precisa comprar remédio prá ele mesmo, prá um filho doente e a receita é só de genéricos que o próprio posto fornece gratuitamente com receita...

Outra hora ele é vizinho da rua de cima, tá precisando comprar leite especial pro filho...

Vizinho da rua de baixo, o pneu do carro furou, ele tá precisando de dinheiro prá pegar um uber e levar a mulher grávida prá dar a luz no hospital.

Eu sempre pergunto qual o número da casa dele e se ele conhece alguém daquela quadra, daquela rua - espertamente eu sempre pergunto por alguém que já morreu - e ele fala que conhece sim, que são bons vizinhos e assim eu trabalho a constatação da mentira.

Da última vez foi num domingo, meu marido já ia dar dinheiro prá ele pegar o uber e eu, da janela, perguntei em que número ele morava, se ele era vizinho de fulano. Meu marido então disse que daria o dinheiro pro uber sim, mas que ele trouxesse a esposa até a nossa porta enquanto ele ligava pro vizinho prá tomar conta do carro.

Não voltou mais.

Isso sempre existiu no mundo: gente que se aproveita do coração dos outros. Vemos isso em livros antigos - "O Principe e o Mendigo" é um exemplo, onde os mendigos profissionais criavam feridas ulcerosas falsas prá si mesmos usando cera de vela vermelha derretida em meio à sujeira de suas peles...

Desacorçoa, né? 

E num Brasil como o de hoje, no qual pelo menos 10 milhões de pessoas estão passando fome mesmo, sem ter absolutamente nada prá comer, no qual a miséria vem crescendo dia a dia, os pidões profissionais vem fazer um des-serviço à prática da caridade...

Meu marido normalmente não passa por esse dilema - tenho certa inveja do coração dele. Ele ajuda - mesmo se achar que a pessoa é apenas mais uma trapaceira... Ele conversa, diz algumas palavras boas acerca da fé em Deus na adversidade, acerca da força que temos que ter prá superar os desafios e procurar honradamente ganhar o pão de cada dia e ajuda.

Ele diz que toda boa palavra é uma boa sementinha, que um dia vai brotar no coração daquela pessoa, senão nesta vida, em outra e então ajuda.

Ele é um homem muito bom e eu tento ser melhor prá acompanhá-lo.

Num Natal passado - e vocês pensando que todo meu palavreado tinha acabado... - bateu na nossa porta um rapaz e meu marido, tocado pelo sagrado do dia e pela chuva forte que castigava o tal pedinte levou prá ele comida e vinte e cinco reais...

Eu - por causa do pedaço de granito dentro do meu peito - fiquei brava. Disse que agora o moço ia vir toda semana - e me enganei.

Ele passou a vir um dia sim e no outro também.

E como durante a semana todo mundo trabalha fora, quem atendia a porta sempre era eu.

Fui lá fora, protegida pela grade alta, conversei com o rapaz e disse que naquele dia nao tinha nada.

No outro dia lhe dei uns biscoitos embrulhados num guardanapo - que ele jogou no chão e pisou, saindo me chamando de maldita.

Alguns dias eu pressintia sua chegada pelos latidos desenfreados de todos cachorros da vizinhança e pela gritaria desconexa que vinha chegando... Então, da janela toda aberta, ao identificar o show de palavrões pesados, ameaças, impropérios, ouvi a campainha tocar.

Depois do meu "Pois não?" o rapaz gritou comigo, disse que ninguém tinha dado nada prá ele e que ele tava precisando. Se fazendo ameaçador propositadamente, como se pelo fato da minha cabeça ser quase toda branca e eu ser mulher e velha eu fosse me sentir constrangida e compelida a ajudar pro pior não acontecer...

Da janela mesmo eu, de voz firme e autoritária como uma professora que dá bronca num aluno malcriado, respondi:

"Rapaz, você tem que aprender a ter educação! Esta é uma área residencial calma, você vem desde lá de baixo gritando palavrões e ameaças e acha que alguém vai te ajudar assim? Tome vergonha! Não vou ajudar coisa nenhuma e você não apareça mais por aqui com esta atitude senão eu vou fotografar você com o celular, vou ligar prá polícia e vou dizer que você me ameaçou".

De uma vez eu estava do lado de fora do portão, conversando com uma amiga e ele virou a esquina e apareceu tão rápido que nem deu tempo de abrir o portão e entrarmos. 

Ele tava vermelho (de beber), fedendo a álcool curtido e, agressivo, avançou prá minha amiga dizendo que era culpa da coitada que "essa velha maldita" nunca lhe dava nada e, antes que ele tocasse nela, eu o parei com a minha bengala. Brava como sou eu disse que ia arrebentar ele a bengaladas se ele tocasse nela, que a "velha maldita" não lhe dava nada porque ele era um pilantra sem educação e que ele fosse embora naquele momento curar a bebedeira senão eu ia falar pro meu marido nunca mais lhe dar nada.

Mas meu marido sempre vai lá fora, conversa direitinho com ele, tenta fazer com amor o que eu tento fazer na dureza. Sempre ajuda.

Quer dizer: ajudava. 

Desde maio ele não voltou mais. Tenho no meu coração que ele morreu de COVID. Devia ter algum problema psiquiátrico sério - ser esquizofrênico, bipolar - situação ainda agravada pelo uso de álcool e tudo isso devia fazer dele grupo de risco...

Agora ele é mais uma pessoa prá eu sentir que fui dura em excesso...

Jesus dizia para sermos simples como as pombas e prudentes como as serpentes e isso é muito difícil prá eu interpretar. 

Eu fui uma menina tão doce... Quando foi que eu perdi aquela inocência, aquela boa vontade para com todos? Quando foi que comecei a adivinhar segundas intenções em tudo? 

O decorrer da vida fez minhas carnes molinhas e meu coração deu uma empedrada...

Bom, mas prá isso Deus me deu os melhores filhos do mundo, que volta e meia me dão merecidas broncas como se - eles sim - fossem os professores da aluna indisciplinada que eu sou. Me sinto pequena perto deles, precisando sempre de suas amorosas mãozinhas prá me guiar e de suas palavras prá despertar o que adormeceu dentro do meu coração.

E preciso do exemplo de fé do Marildo, meu companheiro de quarto que agora dorme longe de mim prá eu não adoecer...

Dentro desta casa que nos custou tanto pagar eu sou a obra que constantemente precisa de reparo, construção em andamento de um coração que mereça ser chamado de bom.

Mas um dia eu chego lá...


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4 comentários:

  1. ufa!.. mas depois de tudo isso Rosa, acredito que não é exagero seu esse pé atras com quem bate no portão.. vc esta certa, hoje em dia os espertos querem fazer a gente de otario, é meio de vida.

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  2. Eu te amo, velhinha... Para todo mundo é difícil medir quando dar é ajudar e qd dar é ser trouxa, todo mundo foi maltratado e enganado, todo mundo não gosta de se sentir ameaçado, ofendido, diminuido, nem q seja por uma palavra manipuladora ou uma mentira, pq no final a gente não pode confiar no ser humano. Mas a gente pode confiar em Deus, e confiar nas lições que Ele ensinou de empatia, bondade, paciencia... Então ainda que a pessoa esteja mentindo, ainda q ela seja maldosa, devemos forçar nosso coração a enxergar ali um ser humano digno de nossa empatia e paciencia. Não guardar mágoas das ofensas, não desejar que tenham o "troco" - mas que aprendam a não errar mais pelo amor e não pela dor. Então se a gente puder ajudar, ajuda ainda q a pessoa seja forte e possa trabalhar, ainda q seja mentirosa e a história furada, pq tvz numa outra vida seria eu ou vc "agressivos, doentes, perdidos, tristes, sem rumo, tentando sobreviver" e nesse dia eu gostaria q as pessoas tivessem empatia e paciencia cmg.
    A gente só deve ter ressalvas qd essa ajuda coloca em riscos a gente, a nossa saude, nossa segurança e a de quem a gente ama. Então, sempre prestar atenção a nossa volta, entender a situação, evitar nos expormos a perigo, e delimitarmos medidas e atitudes para a nossa segurança - isso é ser prudente. Mas pra alem disso, se a pessoa só está mentindo (geralmente para si msm), que diferença fará na minha vida 2 ou 5 reais,um kilo de arroz ou farinha, ainda q a história seja lorota? No final todo mundo mente, mas Deus sabe a verdade dos nossos corações, e temos q nos esforçar pra mostrar pra ele q mesmo q em alguns pontos nosso coração esteja duro, a gente se esforça todos os dias pra fazer ele bondoso.

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  3. Olá, Rosa!

    É tão bom vir aqui ler os seus textos... Em todos eles muito ensinamento!
    O coração não deixou de ser bom, não está empedrado. A vida é que nos dá a sabedoria de distinguir as coisas.

    Eu tenho algumas histórias, que podiam ter corrido mal. Felizmente correram e acabaram em bem. Se me permite, vou partilhar aqui a última.
    Um dia, a caminho da farmácia, encontrei, no passeio, uma nota de € 10,00. Baixei-me, apanhei-a e entrei na farmácia... a tremer (não sei explicar porquê!).
    O Senhor perguntou o que eu precisava e respondi que tinha achado o dinheiro. Ele olhou para mim com ar de "o que é que eu tenho a ver com isso!?".
    Recompus-me e pedi-lhe para ficar com o meu contacto telefónico e, caso alguém lá fosse perguntar pelo dinheiro, que me contactasse. Meio contrariado lá fez o que pedi.
    Com certeza o dinheiro seria de alguém que lá tinha ido e, se fosse pessoa de necessidade, voltaria lá - pensei eu.
    Pouco depois de chegar a casa o telefone tocou. Do outro lado uma voz jovem masculina, muito nervosa, dizia que na farmácia lhe tinham dado este número... "a Senhora tem os € 10,00 que perdi?"
    Respondi que sim e disse em que zona morava...

    Feliz, liguei ao Mô (a Rosa tem um Marildo, eu tenho um Mô) que estava a trabalhar. Depois de lhe contar o sucedido, levei com uma grande bronca! Porque fui irresponsável, porque praticamente dei a nossa morada, porque estava sozinha com os miúdos, porque é um estranho, porque... !!!
    Entrei em pânico, pois ele tinha razão!

    Saí rapidamente de casa e comecei a subir a rua. Assim ele não saberia qual era a casa. Um carro velho, branco entrou na rua, encostou e de lá saiu um jovem adulto. Ficamos a 2/3 metros um do outro no meio da estrada. Estendi a mão com a nota e perguntei se era dele. Antes de, timidamente, estender a mão e pegar na nota, disse, com a voz alterada e lágrimas no olhos, "Não há pessoas como a Senhora!"
    Fiquei sem reação e sem palavras... Esperei que se fosse embora e regressei a casa.
    Liguei ao Mô e contei como tinha corrido...
    € 10,00 não é muito dinheiro mas, claramente, faziam muita falta àquele rapaz!

    Senti vontade de partilhar consigo esta história. E repito o que disse no inicio - o coração não deixa de ser bom, nem fica empedrado, apenas ficamos com o instinto mais apurado.

    Fique bem!
    Beijinhos
    Liliana
    Ideias Recicladas e... não só!

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  4. Rosa, saudade das suas histórias. Vou ler as próximas quando for dormir. Bjs

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