sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Quem cuida da família



(Ou "Os presentes de Natal II"...)

Sabe aquelas coisas de antigamente, que o tempo nos fez perder e das quais a gente sente muita falta? 


Médico da família.

Aquela sensação boa de que você não é só um pedaço de carne, é uma pessoa, com nome, sentimento...

Bom, quando eu era pequena (mesmo a gente sendo extremamente pobre...) tínhamos um médico especial, que cuidava da minha avó (porque meus tios, de vez em quando, pagavam a consulta...) e que operou de apendicite minha mãe, eu e minha irmã Cida (minha mãe costurou à beça prá pagar...). 

O nome dele era "Doutor Pires", um velhinho careca e gordinho, super bonzinho, que atendia no Hospital da Penha... Operava primeiro, sem se preocupar em cobrar pelo serviço: sabia que minha mãe era honesta e ia toda semana levar um dinheirinho prá ele, até quitar o débito...

Quando ele morreu, no enterro, o que teve de gente chorando! Só aí a viúva se deu conta do bem que o marido fazia no mundo: enterro lotado de gente grata pela gentileza, pelas consultas, as amostras de remédios, as cirurgias - pois naquele tempo não tinha AMA, não tinha SUS... Mas tinha esse anjo de Deus na terra...

Depois dele, nunca mais...

Pelo menos até eu encontrar essa médica, que atende todo mundo da minha casa, por quem a gente tem o maior carinho e respeito. 

Aniversário, Páscoa e especialmente Natal são sagrados: a gente nunca esquece dos agradinhos. E sempre que eu vou no Nipo, em consulta marcada, acabo levando um vidro de geleia ou cottage caseiro, um pão fresquinho, um bolinho...

Prá ela eu fiz esta camiseta - com tecido comprado por quilo na José Paulino:

Malha canelada, super macia...

O retalho era gigantesco, tinha mais de 3 metros de comprimento. Tava no retalho porque tinha furos, alguém no transporte apoiou a peça em algum lugar onde enganchou e, na hora de puxar, abriu uns rasguinhos nela...

Mas foi só saber de onde cortar as partes e tudo deu certo...

E o arremate do pescoço, como eu sempre digo: viés. Costura rente no pescoço, dando uma leve esticadinha (só no viés...) e, no fim, vira prá dentro, dobra e costura à mão, com pontinhos invisíveis, como eu já ensinei mais de uma vez...

Ela adorou, serviu como uma luva - e ela até pensou que era comprada pronta, por causa do overloque. Custou acreditar que fui eu que fiz, pois tava profissional demais... Ficou: "Ai, Dona Rosa! Sério mesmo que foi a senhora que fez? Que delícia de blusa, adorei!!!". Gente, custou R$1,50 fazer os olhos dela brilharem de alegria - pode uma coisa dessas?

Mas não foi só essa camisetinha - também fiz uma blusinha de lã super fofinha prá ela, numa cor que ela adora: cinza azulado, que mais parece azul... 



Receitinha dessa postagem AQUI (só que comecei o decote "V" na mesma altura da cava, prá ficar mais aberta...).

O desenho desfiado eu fiz assim: Deixa 5 agulhas em trabalho, tira a 6ª agulha e passa prá direita. Tece duas carreiras - como a agulha continua na posição de trabalho essa agulha vazia volta a tecer e fica um buraquinho. Daí pega novamente essa 6ª agulha, tira o ponto dela prá esquerda, tira ela do trabalho (empurrando ela prá trás, prá posição de descanso), e tece 10 carreiras. Pega a agulha que tava descansando, trás de novo prá frente e coloca um ponto nela (o ponto da carreira anterior da agulha do lado) e tece duas carreiras - pronto! Agora todas as agulhas tem ponto. Então escolhe o ponto do meio de cada desenho anterior e faz a mesma coisa, alternando os furinhos e os desfiados.

Antes de passar a ferro:


Depois de passar:


Percebeu a diferença? Abre o desenho, mostra a beleza do desfiado delicado.

Além de lindo, o desfiado é econômico: gasta menos fio enquanto tece. Daí, com apenas um cone de lã Cristal (no qual paguei 11 reais) você faz uma simpática blusinha, assim fofa, largadinha, prá você se sentir aconchegada quando o tempo começar a esfriar...



Acabamentos: uma carreira de pontos baixíssimos, uma de ponto caranguejo - que dá o ar de "nózinhos" na beirada. 

Os botões são pirâmides brancas - achei bonito o contraste de cor: se os botões fossem da cor da blusa, ficava comum, apagadinha. Tem que saber a hora de combinar e a de descombinar, não acham?

Preciso dizer que ela amou? Ainda ganhou bombons, pois merece.

Ah, com o tecido da camiseta azul marinho canelada eu ainda fiz duas regatas prás minhas meninas, olha a Lola usando uma delas:


Fiz duas iguais - então não carece fotografar duas vezes, né? E ainda deu pano prá fazer 4 cuecas pro meu irmão - boxer, primeira vez que fiz, usando um molde que minha mãe trouxe prá mim (copiou de uma cueca que ele tem). 

Não fotografei, fiz no tapa e no sufoco da correria de Natal, nem me lembrei de que podia postar no blog... Ainda faço mais, pro futuro, se Deus quiser... 

Tudo lindo, baratinho, perfeito! Bom, pelo menos prá mim, que sou modesta, não tenho fortunas prá esbanjar... Mas quem ganha aprecia, porque sai tudo bem feitinho, no capricho e no amor...
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13 comentários:

  1. Rosas...as peças continuam lindas...elegantes e bem charmosas!
    E quanto ao médico de família...por aqui...já os há poucos e na maioria de "família" não têm nada!
    Bj amigo

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    1. É assim mesmo, a maioria das vezes... Falta vocação verdadeira, falta amor no coração...

      Beijos.

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    1. Obrigada, você sempre é muito gentil comigo. Que Deus te abençoe. Beijos!

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  3. amo esse seu jeito simples de ser, me identifico, os trabalhos lindos.parabéns.

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  4. Há gente bondosa «ainda» esse tipo de médico também existia aqui,
    chamava-se doutor Camilo, gostei das obras, beijo amiga

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    1. Que bom que você também tinha o teu, Mira querida. Beijos!

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  5. Ai Rosa, quanta coisa linda você fez com tão pouco dindin!! Milagre!?! Nããão, é muito dedicação, muito carinho e esperteza, lógico. A blusa de lã ficou delicada, um charme. E a regata nem sei o que dizer, vestindo essa belezura que é a Lola, ficou show!! Parabéns, como sempre!!
    bjss

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    1. Obrigada, Luci querida, especialmente pela parte da Lolinha...

      Beijos!

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  6. Rosa

    Meus pais tiveram, por muitos anos, um médico de família e chamava-se Dr.José que também já era um senhor, talvez uns 20 anos mais novo que meus pais. Meu pai faleceu aos 78 anos, em casa, conversando com minha mãe, sem dar um "ai" sequer.

    O Dr.José foi chamado, logo apareceu apesar de que ele não poderia fazer mais nada por meu pai. A meses estávamos avisados e preparados pelo médico de que o coração de meu pai batia por um fio, muito fraco e que era muito provável que morresse dormindo mas ele se foi ... conversando. Segundo o médico, nessa situação ele não sentiu dor, o que sentiu foi aquela moleza que sentimos quando o sono vem chegando.

    Bem, o Dr.José foi na casa de meus pais, examinou-o e de lá mesmo preparou documentação para certidão de óbito. Hoje em dia, é difícil ter um médico que venha em casa, que converse com familiares enlutados e ainda esclareça sobre espiritualidade pois ele era adepto do espiritismo kardecista, era muito acalentador conversar com ele.

    Infelizmente, ele se mudou para bem longe, em outra cidade, nem sei se ainda vive na Terra, se medica ou se aposentou pois se passaram mais de 15 anos desde a última vez que o vi. Mas, onde ele estiver, acredito que esteja bem e fazendo o Bem. Foi um médico como poucos e fico contente que ele não tenha sido, não seja o último. Há mais pessoas iluminadas como ele.

    Sobre os seus trabalhos, Rosa querida...o que posso dizer? Lindos e caprichados como sempre. Parabéns.

    Bjs

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    1. Que bom que você tem essa lembrança linda, geralmente a morte de um ente querido é um trauma, uma violência com o coração da gente... Parabéns pelo Doutor José, mais um bom exemplo do amor de Deus na terra.

      Beijos, Fatinha querida.

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  7. Aí Rosa, você lembra com carinho de que te ajuda..e com certeza essa médica e esse anjo vão sempre ajuda-la! bjs Nina

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