segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Eles eram pequenos...


Mas nunca foram dormir sem ouvir histórias... 


Bom, quando a Lolinha era muito pequenininha e logo em seguida veio a Nana, eu só cantava prá elas dormirem, ainda não dava prá entenderem histórias... 

Nesse tempo - porque eu tinha lido numa revista da Seicho-no-ie que a gente tinha que dizer coisas boas pros filhos - eu fazia assim: esperava cada uma delas dormir, me deitava toda aconchegada do lado de cada uma, ficava segurando as mãozinhas, acariciando os pezinhos, beijando suavemente os rostinhos, e dizendo numa voz quase inaudível, num sussurro mesmo:

"-Você é linda, inteligente, um presente maravilhoso que a vida me deu... Você é boazinha, tranquila, me faz a mais feliz das mães... Eu te amo tanto! Você é minha vida, me enche de orgulho e de alegria... De todas as mulheres do mundo prá quem Deus podia ter te mandado, eu fui a sortuda e sempre vou ser grata a Ele por isso..."

Assim, virou costume: história (muitas vezes até quatro, cinco delas numa noite!) e declarações de amor... Porque eu acho assim: é bom quando o amor está implícito em tudo o que você faz por eles - é mais que bom, é necessário! - mas o amor também tem que ser declarado, colocado em palavras diariamente... A gente não pode pensar que eles sabem o quanto são amados - tem que dizer sempre prá eles!

Eu podia estar cansada, ter lavado toneladas de fraldas sem máquina de lavar - a qual só pude comprar quando eles pararam de usar... - ter que acordar de madrugada prá deixar o almoço deles pronto (coisa que sempre fiz, mesmo quando morava com a sogra...), mas nunca falhei em contar histórias e sussurrar meu amor pros três... Acho que isso os tornou mais inteligentes, alimentou a imaginação deles, lhes deu confiança - fé na vida...

E, dos sussurros na hora de dormir, passei pro dia todo: como eu disse, eu sempre falo esse tipo de coisa prá eles, declarações de amor sem hora prá acontecer. Não me canso de fazer isso porque é verdade: eu os amo infinitamente, me fazem feliz numa escala inimaginável... O peito chega a doer, mas uma dor muito boa, se é que isso existe...

E quando eles eram pequenos...

A vida era corrida: eu trabalhava fora, chegava em casa, esquentava o almoço deles, ia pro tanque, cuidava da limpeza e, no final de tudo, antes do pai deles chegar em casa, eu lhes dava banho: juntava os três no banheiro - os três duma só vez, que o tempo era curto! - ligava o chuveiro e fazia uma bagunça terrível! Era shampoo prá todo lado, condicionador, o banheiro virava uma lagoa: "Lola, esfrega as costas dos teus irmãos! Naninha, não deixa cair shampoo nos olhos do Ike!"...

Quando acabava enxugava todo mundo, vestia, secava os cabelinhos com o secador e, quando estavam prontos, eu sentava esgotada no sofá e dizia: "Deixa eu espiar vocês, se ficaram bonitos...".

Eles chegavam perto de mim, os rostos mais lindos que meus olhos poderiam ver, os sorrisinhos tranquilos e contentes, fresquinhos e cheirosos e daí eu dizia:

"- Ai, meu Deus!!! O que que é isso que tá me acontecendo? Meus olhos... Meu cérebro... Nunca na vida eu vi nada tão lindo, é uma sobrecarga grande demais prá mim, eu acho que não vou aguentar e... Ah, Choque de beleza! Choque de beleza!" - fingindo ter "um troço" eu fazia uns ruídos com a boca, revirava um bocado os olhos, dava uns trimiliques e fingia que escorregava, desmaiada, no sofá.

Eles faziam silêncio, imaginando se eu tava fingindo ou se era verdade que eu tava desmaiada, ficavam se espremendo à minha volta - eu ouvia suas respirações, seus cochichos...

Daí... devagarinho... eu fingia que ia recobrando a consciência e ia falando (ainda de olhos fechados):

"- Nossa... O que será que aconteceu comigo?... Eu tô tonta... Parece que eu vi algo demais de lindo e meu cérebro não aguentou... Será que foi o tal Choque de beleza de que eu já ouvi falar? Mas... Não pode ser verdade, já vi tanta coisa linda na vida, beleza nunca me fez desmaiar... Acho que não tem perigo eu abrir os olhos, não tem nada lindo perto de mim..."

E, quando eu abria os olhos, as três mais lindas e perversas criaturas estavam com seus rostinhos colados no meu, exibindo a belezura prá eu ter outro piripaque - tão malvados!!!

E eles cresceram... 

Mas enquanto isso aconteceu eles sempre foram calmos, bons, tranquilos (como eu sussurrava em seus ouvidos...). As professoras sempre vinham falar comigo, me dar os parabéns por crianças tão queridas, tão boas...

Acho que eu podia tornar o mundo um lugar melhor só tendo filhos, um atrás do outro - me arrependo muito de ter operado quando o Ike nasceu... Desde que eles surgiram na minha vida, me tornei outra pessoa, melhor, mais inteligente, mais forte... Ser mãe é a melhor coisa do mundo - pelo menos prá mim...

Tem uma coisa: não se passou um único dia na minha vida desde que eles chegaram em que não houve momentos - inúmeros - nos quais eu quis parar o tempo, congelar um acontecimento precioso para vivê-lo prá sempre! Queria segurar prá sempre comigo o primeiro dentinho, as primeiras palavras, os sorrisos, os soninhos derretidos... As palavras faladas errado, as letrinhas imperfeitas dos primeiros dias na escola, os primeiros amigos...

Que pena que o tempo passa...

E que bom que o tempo passa: veio uma alegria depois da outra - e continua vindo...

A Lola entrou na faculdade: eu fui com ela, fazer os trajetos, em vários caminhos, até ela ficar craque (afinal, tava acostumada a ser sempre levada de carro, se virar sozinha era um desafio - mas nada impediu que a mãezinha estivesse junto nos primeiros passos como foi lá no comecinho, depois da engatinhada...).

Mesma coisa o Ike, mesma coisa a Nana.

A primeira barba do meu moleque fui eu que fiz, ensinando o sentido de passar o aparelho prá não ferir a pele... Raspei a cabeça dele careca quando passou na faculdade...

Ensinei as duas a depilaram as pernas, passar batom... 

Sabe uma brincadeira que tem, um desenho de um livro infantil, chamado "Ache o Waldo (ou Wally)"?, um embaralhado de figuras que você tem que ficar olhando, olhando, até achar uma pessoa (Waldo) que sempre se repete em todas elas?
  


Pois acho que eu sou o "Waldo" deles, apareço em praticamente todos os acontecimentos: espia a vida dos meus filhos e lá estou eu, num cantinho, escondidinha, fazendo figuração na cena...

Nada deles é prá mim trabalho, nada é obrigação: é meu privilégio lavar e passar, cozinhar, estar ali prá tudo... 

Assisti todos os desenhos que eles assistiram, ouvi todas as músicas que eles ouviram, eu que os ensinei a jogar vídeo game, a mexer no computador, li todos os livros que eles leram...

Eles sempre se socorrem de mim, como se eu tivesse solução prá tudo - engraçada essa posição de mãe: a gente envelhece, mas não perde os poderes...

Um tempinho atrás eu não estava muito boa e meu moleque - alto como um guarda-roupa, barbudo, com a fala grossa que em nada lembra o meu bebêzinho tão doce de antigamente, que me chamava de "Coraçãozinho" em lugar de mãe e que hoje me chama de "Velha" (porque o mundo faz dessas coisas com os homens, às vezes... eles tem que esconder a doçura numa crosta carregada de espinhos...) - estava tão preocupado, me cercando, me comprando coisas prá me fazer feliz e eu disse:

"- Sabe, filho, acho que eu nunca vou morrer... Se algum dia eu estiver deitada numa cama de hospital, um fiapo de velha sumindo do mundo, e qualquer um de vocês chegar e disser assim: 'Mãe, levanta daí, que eu preciso de você prá fazer uma coisa, prá ir num lugar ..."- mesmo que for nos quintos dos infernos, eu vou criar forças, me levantar e vou fazer o que mais gosto de fazer na vida: ajudar vocês... 

- Ou então vocês três chegam, de mansinho, me dão um Choque de Beleza, que eu dou uma desmaiadinha e daí acordo...".

Ele riu de mim - como que me achando boba por lembrar de algo tão distante no tempo (que prá mim foi ontem, mas ele não acredita...)".

Porque ser mãe é o melhor emprego do mundo: apesar da gente nunca ter férias, nunca se aposentar, de salário a gente receber mais preocupação do que qualquer outra coisa, mesmo assim a gente adora cada minuto do dia, porque faz o que gosta, práqueles que a gente mais ama na vida... 

Alguém conhece emprego melhor?

(Agora: a imagem do início da postagem é de uma foto dos três tomando banho juntos, naqueles bons tempos, quando eles eram pequenos... Não postei a foto em si - que é linda...- porque me proibiram... Aliás, se meu garoto vê essa imagem, corro "risco de vida"... Se eu nunca mais aparecer por aqui, já sabem o que me aconteceu...).
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23 comentários:

  1. Bem Rosa...que homenagem ao AMOR FILIAL!
    Senti cada palavra...cada vivência!!!
    A vida abençoa-nos com os filhos e a arte de os educar é tão gratificante!
    Boa semana e bj e que Deus vos abençoe

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    1. Que bom que você gostou, Maria da Graça querida! Como mãe também eu aposto que você se encaixou na situação, não é mesmo?

      Beijos e obrigada!

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  2. Rosa, me fez relembrar bons momentos da infância de minhas filhas! Até hoje, agora já casadas, elas ainda me pedem opinião sobre vários assuntos. Também contei muitas histórias, mesmo sem saber da importância disso, apenas por que gostávamos ...
    A foto é linda, de um momento corriqueiro mas que ao passar dos anos se torna tão especial.
    beijoss

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    1. Você é como eu, Luci querida - não vai se aposentar jamais dessa profissão maravilhosa (que a gente adora...)!

      Beijos e obrigada!

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  3. Oi Rosa!
    Li seu texto e concordo que não tem nada nesse mundo melhor do que ser mãe.
    Um beijo e uma linda semana amiga.

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    1. Pena que nem todas as mães pensam assim, não é mesmo, Márcia querida? Conheço cada caso escabroso, de gente que não tá nem aí pros próprios filhos... Só Deus prá tomar conta...

      Beijos e tenha uma linda semana você também.

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  4. Rosa, querida, o seu testemunho é comovente!
    Revi-me em muitas das situações que referiu!

    Ah! e já estou de chicote em punho!

    Beijinhos, linda!

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    1. As boas mães tem muitos endereços, Nina querida...

      Beijos e obrigada!

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  5. É Rosa, se toda mãe fosse como você... quanta coisa seria diferente nesse mundo. Como falta amor. E essa vocação então? Amo muito minhas filhas, de todo o meu coração, mas acho sempre que não estou à altura...
    Um grande bj
    Mara

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    1. É que a gente nunca se acha à altura, somos perfeccionistas e exigentes demais com nós mesmas... Mas tenho certeza que tuas filhas te acham o máximo, Mara querida.

      Beijos!

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  6. Rosa

    Também sou mãe babona de 2, por mim, estenderia a infância deles por mais algum tempo!! me revi em situações bem parecidas principalmente na hora do banho, nos divertíamos muito. Atualmente, nos curtimos de uma maneira diferente pois agora são adultos, inclusive um mora fora de SP. Mas sinto falta das vozinhas infantis, das brincadeiras, de achar graça com as palavras que diziam, dos passinhos pela casa. Affe...paro por aqui, meu olhos marejam ao lembrar. Meus filhos para mim e maridão são tudo para nós. Adorei sua história e me diverti junto imaginando as cenas e relembrando na minha vida algumas passagens contadas por vc. Ser mãe é indescritível e quem adota (com amor verdadeiro mesmo) um outro ser, rejeitado ou pq perdeu os pais...tem mais ainda a minha profunda admiração.

    Mas, mudando de assunto ...
    Agradeço suas dicas sobre minha blusa. Pretendo mexer nas mangas, não fiquei nada satisfeita com elas. Pensei justamente em encurtar e ajustar.
    Farei mais moldes da Burda mas super atenta às medidas da revista em comparação as minhas medidas. E outra coisa importante é alinhavar antes de costurar quando pegamos moldes prontos.
    No ano passado fiz algumas aulas de modelagem e posso afirmar que ajuda muito. Pretendo voltar este ano a participar das aulas, só preciso esquematizar meu ano de trabalho que começa a apertar a partir de abril.

    Conheço mas não consigo assistir o programa Burda na TV quando está ao vivo, então assisto só pelo Youtube. Eu revi agora a pouco o apresentado pela Ana Consentino fazendo blusa bicolor, muito bonita por sinal e ficou ótima nela. Agora, você, já tem o seu jeitinho que dá certo, fica bem nas meninas, entao não muda a sua maneira.

    Uma vez assistindo o prog da Burda na TV lembro da editora Renata Ruiz orientar a compararmos nossas medidas sobre os moldes riscados da revista e fazer as mudanças necessárias.
    Somente uma vez tirei molde como você faz, tinha 14 anos quando fiz e costurei, foi minha 1ª blusa e a tenho guardada até hoje. Qualquer dia mostro no meu blog. Ela é muito simples, básica de tudo.

    Sobre a Ronã, passo quase todos os dias em frente e tem aberto durante a semana. No sábado, tenho visto aberto sim mas não sei se fica o dia todo. No domingo, não abrem mais. O telefone da loja que tenho anotado é 2087-3353. Confere com o que tens aí? Se for esse, me avisa, que na 4ª feira passarei em frente e posso dar uma paradinha lá para saber o que aconteceu pois tenho visto a loja aberta todas as vezes que passo em frente.

    Bom, agora chega de escrever, né? está chovendo um pc mais forte e tenho janelas escancaradas.

    Bjs

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  7. Rosa

    Fui na Ronã Malhas. A loja abre aos sábados das 09:30h às 16:00h.
    Não abre mais aos domingos pois não compensa.
    O nº de telefone agora é 4962-4277.

    Bjs

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    1. Muito obrigada, Fatinha querida! Você é mesmo um anjo. Beijos!

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  8. Rosa sua doçura me emociona,quem dera todas as mães soubessem e pudessem demonstrar todo amor que sentem aos seus filhos,só teríamos filhos felizes mas as vezes o sofrimento cala a mães e os filhos não conseguem perceber o amor de suas mães ,só pelo pão colocado na mesa com muito sacrifício e em meio a muito sofrimento.cada vez te admiro mas por sua ternura.Bjs

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    1. Viver é muito difícil, às vezes as dificuldades passam por cima da gente como um rolo compressor... Mas eu acho que, uma vez que a gente os trouxe ao mundo, temos que pelo menos demonstrar nosso amor, mesmo que a gente esteja na dificuldade. Pode faltar dinheiro prá comprar coisas, mas nunca pode faltar amor...

      Beijos, Rose querida.

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  9. Quanta saudade...
    Que delícia depois de tanto tempo chegar aqui e ler seu relato, com o qual me identifiquei imensamente... adoro a filosofia da Seicho-no-ie e também uso muitos de seus ensinamentos aqui em casa. Todos os anos faço os registros para meus antepassados.
    Também amo ser mãe.
    Além de suas lindas história adoro também a maneira como vc transforma um simples pedaço de tecido... é possível sentir todo o amor com que vc faz cada peça.
    Fiquem todos com DEUS.
    Beijo.

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    1. Obrigada, Rosangela querida! Nossa, quanto tempo, tava com saudades também!!! Beijos e volte logo!

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  10. Que linda declaração de mãe!! É mesmo muito bom ser mãe, só o carinho que recebemos deles, já faz valer a pena tudo por que passamos!
    bjs adorei Rosa!
    Nina

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    1. Eles são o melhor presente da vida, não são? Eles tem que ser sempre lembrados disso, porque o mundo lá fora nem sempre é bom com eles...

      Beijos, Nina querida!

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  11. Eta! Que mãezona deliciosa!!! Amei o texto, Rosa! Beijos

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  12. Que coisa mais linda! Estou aprendendo muito com este Blog. Beijão pra você.

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