quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Ta-ta-tapioca! Ta-ta-tapioca!

"Maria tá peneirando..."



E a perua passa na rua e a tua boca já enche de água, não é? Já comprou dessa van que passa na rua ou só comeu no quiosque do shopping? É bom demais, né? Tem tantos sabores, tantos recheios... É a cara do Brasil - e ninguém pode discordar de mim: com um cafezinho: Hummmmm!



E a ideia de fazer uma postagem sobre tapioca aconteceu assim: nem bem voltei do sítio lá fui eu no Supermercado Sonda, comprar umas besteirinhas que tavam faltando. Daí, no corredor de refrigerados (onde fui atrás de manteiga - as margarinas que me perdoem, mas natural é sempre melhor em sabor e saúde) e lá estava minha enteada e, de costas, a mãe dela. Eu brinquei: "Trouxe a sua irmã prá fazer compras?" - porque ela tava linda, botinha de salto alto, calça jeans destroyed, camiseta preta bem justinha e cabelo de escova. Ai, pensar que eu tive tanto ciúmes dela, por ser mais bonita, mais nova, mais endinheirada... Por ter sido o primeiro amor do meu "Marildo"... A gente sabe nada quando é jovem, só vivendo é que a gente aprende...
Ela escutou a brincadeira, sorriu e veio me abraçar e beijar, toda feliz - sabe que o elogio não é da boca prá fora, gosto dela mesmo...
Quase três anos atrás ela sofreu muito. O marido dela teve câncer na próstata, que passou pro fígado, depois pros ossos... Foi um sofrimento que ninguém no mundo merece, uma coisa absurda - e ela não arredou o pé do lado dele. Eu assisti de longe, imaginando um pouco o sofrimento. Ele faleceu e minha enteada estava grávida, dois meses depois nasceu o bebê. Lá estávamos nós três no Hospital, prá assistir o parto: ela (a avó materna), a sogra da minha enteada e eu (a avó penetra). Foi lindo, chorei feito criança... E ela tava tão abatida, tão acabadinha... A pele toda manchada e ressecada, os cabelos parecendo de boneca velha, com umas quatro cores, sem vida nem brilho. Vestida de qualquer jeito...
Parecia sabe o quê? Aquelas esposas de faraó, que eram enterradas vivas junto com o marido quando ele morria...
Eu nem sabia o que falar - vai que eu tento ajudar e pioro as coisas? Podia se ofender e, além do mais, cada um tem que superar suas dores no seu tempo...
Daí, no almoço de Natal, lá estava ela toda arrumada, maquiada, bem vestida! Remoçada. Conversando comigo minha enteada me contou que o sofrimento do padrasto era tanto, mas tanto, que nem morfina resolvia. Só o que aliviava um pouco era ela abraçar as pernas dele, daí ele conseguia dormir um pouco... Ela ficou do lado dele, em casa e depois no Hospital do Câncer, dia e noite. Nem banho tomava, não se alimentava direito...
Daí ela mesma me contou que uma "amiga" zombou dela, de como estava acabada e foi assim que ela reagiu - "amiga da onça", mas que acabou lhe fazendo um favor...
Tá namorando um homem dez anos mais jovem, todo marombado, fica mostrando fotos dele tiradas no celular prás minhas filhas, agindo feito adolescente de novo - bom prá ela. A gente tem que ser feliz, não é mesmo? Ainda mais uma mulher de valor como ela, que fez direitinho a sua parte na hora do aperto...
Bom, e lá estava ela no supermercado e veio me pedir prá ensinar a fazer tapioca - que a filha dela disse que as minhas são as melhores...
Ali mesmo ensinei rapidinho - que é muito fácil. E olha só que curioso: uma amiga também pediu prá eu ensinar a fazer tapioca, através do facebook...
Então: tem de vários tipos - eu faço de dois: a salgada, com recheio de mussarela (mas você pode rechear do que quiser...) e a doce (que eu faço de coco). Na postagem de hoje vou ensinar a salgada, amanhã ensino a doce - senão a postagem fica grande demais.
Você vai precisar de:
Polvilho azedo (daqueles de fazer pão de queijo); água; sal; manteiga derretida; fatias de mussarela. Uma frigideira com anti aderente e uma espátula.
O polvilho tem que ser hidratado com água e tem uma proporção: quatro partes de polvilho prá uma e meia de água - mas isso não é exato, pois depende do polvilho que você vai usar. O polvilho que eu uso é este aqui:
Coloque numa vasilha grande o polvilho (quatro xícaras) e salgue um pouco (uma colher de chá de sal). Se for fazer tapioca doce coloque umas três colheres (sopa) de açúcar e umas gotinhas de baunilha prá ficar supimpa. Mexa bem e jogue uma xícara de água. Se for fazer doce pode substituir parte da água por leite ou leite de coco. Mexa bem (com as mãos), desmanchando os caroços que ficam.
Vai jogando o restinho da água que falta aos poucos: não pode ficar muito molhado, senão vira uma maçaroca e também não pode ficar seco, senão não dá liga...

Daí tem que peneirar - senão os caroços não desmancham e a pessoa que vai comer come bolotas de pó...
Fica uma farinha granulada desse jeito, cada bolotinha bem pequenininha. Você pode guardar essa farinha num pote, na geladeira, por até uma semana e ir fazendo tapiocas todo dia.

Daí apronta tudo o que você vai precisar: a farinha granulada, a manteiga derretida e a mussarela fatiada.

Esquenta a frigideira antiaderente  - sem untar com nada, a frigideira sequinha. Vai jogando a farinha com a colher, espalhando pelo fundo uma camada homogênea. Numa frigideira de 20 cm de diâmetro eu coloco de quatro a cinco colheres de sopa. Pode colocar mais, se quiser a tapioca mais gordinha, mas eu e todo mundo aqui em casa preferimos mais fininha. Fogo baixo.

Todo o fundo tá coberto e o calor da chama tá fazendo as bolotinhas se fundirem umas nas outras, se abraçando e formando um tipo de crepe, como uma panqueca sequinha.

Joga uma colher de manteiga derretida de um dos lados da tapioca - assim ela fica mais úmida e saborosa.

Por cima da manteiga coloca o queijo.

Agora repara numa coisa: as beiradinhas tão se levantando - sinal que a massa tá quase cozida (você não quer comer tapioca crua, né?)

Então, já que as beirinhas já levantaram, pega uma espátula e dobra a tapioca. Pode enrolar quiném panqueca, faz do jeito que você mais gostar, a tapioca é tua.
Reparou nos farelinhos que ficam na frigideira? Depois que acaba de fazer cada tapioca, passa a espátula na frigideira e joga eles fora, senão eles acabam fazendo parte da próxima que você vai fazer e eles ficam duros como grãos de areia, horríveis de se morder...

Vira a tapioca do outro lado, prá terminar de derreter o queijo bem e ficar bem cozidinha.

Vai amontoando elas no prato - nesse dia o lanchinho foi tapioca, cinco prá cada, meus filhos e o Marildo "deitaram o cabelo" nelas... Pelo Marildo teria cinco quilos de queijo dentro de cada uma, mas as crianças gostam assim - e não se brinca com o colesterol na idade da gente...

Por dentro ficam assim: molinhas, queijosinhas, gostinho suave que lembra pão de queijo.
Ficaram fininhas demais pro teu gosto? Faz gordonas! Recheia com queijo e presunto, com frango, sei lá, inventa um recheio!



Faz doce, com recheio de coco fresco, doce de leite, pêssego em calda fatiado e chocolate branco...
Achou difícil? É não.
Faz assim: experimenta fazer uma só: cinco colheres de sopa de polvilho azedo, uma colher e meia de água, uma pitada de sal. Peneira com aquela peneirinha de coar chá. Faz só uma prá pegar o jeito, perder o receio...
Garanto que você vai querer ter essa farinha num pote na geladeira prá fazer uma na hora do café, fresquinha e quentinha... Prá oferecer prás Migas quando vem te visitar... Pros filhotes quando voltam da escola... Pros netinhos.
Ah, não presta fazer e guardar prá depois: fica ruim, perde a maciez. Tem que fazer na hora e comer quentinha, tá bom?
E amanhã eu ensino outra, tão gostosa quanto, que é doce e gordinha, lembra uma cocada, feita com tapioca mesmo...
Mas tenham consciência de uma coisa: uma vez que você faz a primeira, tua família vai querer sempre - ainda mais quando a perua passar na tua porta tocando a musiquinha... Daí vocês estarão condenadas a fazer, prá sempre e sempre, pois ficam deliciosas...
Cozinhar bem é uma bênção - e uma maldição...

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26 comentários:

  1. Adorei a receita, querida Rosa! Sabe, em 1982 meu marido, a Angélica e eu fomos a Manaus, e no hotel, no café da manhã tinha tapioca. Era doce, com coco e, como se diz "dos deuses"! Amei desde a primeira dentada. Mas, naquela época não tinha a facilidade que se tem hoje de encontrar quem fizesse a tapioca aqui em São Paulo. Fiquei anos sem comer. Não sabia fazer, não tinha quem ensinasse, enfim, pensei que não conseguiria comer mais, ficou na lembrança. Até que numa feira, na Praia Grande, encontrei uma senhora nordestina que tinha um carrinho e fazia divinamente as tais tapiocas. Eu procurava ir para a praia e estar lá às quintas-feiras, para poder comer a tapioca. Ô delícia! Depois ela também deixou de ir à feira. Surgiram, há uns 13 anos alguns quiosques vendendo tapioca. Então pude matar a vontade de comê-las. Agora tenho feito em casa, com uma farinha comprada pronta, não é lá essas coisas, mas dá para matar a vontade. Acredito que agora com sua receita e explicações poderei fazer de um modo mais caseiro, natural. Obrigada por compartilhar! Beijinhos carinhosos.

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    1. Experimenta fazer, Ligia querida, você vai adorar, pois fica muito boa mesmo. Beijos!

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  2. Sou apaixonada por tapioca, aqui em casa quem faz é o marido , todo domingo no café da manhã ele faz aos montes, que delícia, me deu vontade.

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    1. Eita, que sortuda tendo um marido cozinheiro! A única hora que meu marido vai prá cozinha é prá xeretar o que tem nas panelas...

      Beijos e obrigada pela visita, Maria da Luz querida.

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  3. Olá Rosa
    Gosto muito de tapioca mas nunca fiz ,achava muito complicado mas com sua ótima explicação vi que não é...vou tentar...obrigada !
    Bj
    Nlida

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    1. Você vai acabar fazendo sempre, pois é fácil e fica deliciosa. Beijos, Nilda querida.

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  4. Rosa, eu amo teus comentários no blog. Fico lendo e gargalhando kkkkk
    Os 'bandifeios' querem o teu bem, por isso, querem que tu comas só mato rs
    Te adoro, amiga. Lendo o teu relato sobre o sofrimento da ex do marildo, até chorei.Como tu és perceptiva e sensível...

    Amiga, não se faz tapioca com goma de farinha de tapioca por aí? só com polvilho? eu não sabia disso. Achava que tapioca era só uma...

    Deu água na boca essas tuas dicas e receitas!
    O dia em que eu conseguir chegar até a tua casa, eu vou comer, né?! rsrs

    bjs

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    1. Minha sogra trazia de Alagoas, quando viajava, essa goma de que você fala. Daí ela fazia tapiocas repletas de coco fresco, ralado na hora - e eu me esbaldava...

      Mas, "não tem tu, vai tu mesmo", "quem não tem cão"... Experimenta fazer com polvilho e depois me fala o que achou.

      Beijos, Lia querida.

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  5. Hummmm...que delicia!!! Me deu água na boca e inspiração poética (rsrsr).

    Tapioca é tão bom...bom...bom....
    Quem quer?? ...Quem quer????
    EUUUUUUUUU!!!!


    Bjs

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    1. Com um cafezinho... Também adoro, troco uma refeição por umas duas bem gordinhas...

      Beijos, Fatinha querida.

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  6. Oi Rosa, que linda história e que delícia! A-do-ro tapioca!
    Faço muito aqui em casa, mas eu vou sempre até a feira comprar o polvilho direto na barraca da tapioca, não sabia que dava para fazer com esse do mercado, adorei a dica!
    Eu sou louca pela tapioca com um fio de leite condensado e cheia de coco ralado fresco bem grosso, hummmmm
    Acho que amanhã vai ter tapioca aqui!
    E seu PAP é de mãe, viu?
    Bjs querida

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    1. Hummm! Também adoro dessas, bem coquentas...

      Beijos e obrigada, Doutora querida.

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  7. Oi Rosa! Sabe que eu tava mesmo querendo fazer tapioca, veio bem a calhar esse seu post! Semanas atrás, estava com um pintor fazendo uns serviços aqui em casa, e ele me trouxe um pouco da 'farinha' que ele mesmo fez mas com polvilho doce, sem sal ou açúcar. O modo de fazer é mais ou menos como o seu, ele apenas deixa hidratando de um dia pro outro. Vou fazer como você, pois fica pronto no mesmo dia!! Além do mais, a sua vem sempre acompanhada de uma bela história. Obrigada! beijoss

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    1. Que bom que você gostou, Luci querida. Espero que tenha tentado fazer e que tenha dado certo. Beijos e obrigada!

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  8. Que historia amiga....deixou meus olhos cheios de lagrimas.
    Amo tapioca....amo,amo
    quero aproveitar e te convidar para participar de um sorteio la no meu blog bjs

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    1. Já fui lá, minha querida, e participei. Obrigada por me convidar. Beijos!

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  9. Boa noite Rosa! mais uma que aprendo com vc. Não sabia que podia fazer tapioca com polvilho doce. Eu só faço quando encontro a tapioca hidratada no mercado, o que é raríssimo por aqui. Vou experimentar. Bjs e obrigada pela sua generosidade em partilhar seus conhecimentos.

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    1. Com o polvilho doce dá prá fazer, mas eu prefiro com o azedo, porque lembra o gostinho do pão de queijo. Espero que você tenha tentado fazer e que tenha dado certo, Celia querida. Beijos!

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  10. Olá,Rosa querida!
    Que bela história!Você consegue nos surpreender sempre com a sua generosidade!
    Adoro tapioca,só não sabia que podia se fazer desse jeito!rsrsrsrs.
    Tenho polvilho aqui....vou experimentar!!!
    Obrigada mais uma vez por compartilhar!
    Que Deus te abençoe sempre!
    Beijo no coração!
    Cristina Peres RJ

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    1. Muito obrigada, Cristina querida. Sempre tanta gentileza e carinho... Espero que você tenha conseguido fazer e tenha gostado das tapiocas.

      Beijos!

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  11. Rosa, mulher atualíssima!!!! Minha filha comeu na casa da prima e notei que esse negócio de tapioca está na moda, pois em todos os lugares que fomos nas férias se via vender tapioca. Eu nunca fiz, mas vou fazer para a minha filha. Há muitos anos atrás (anos 80) se vendia muito na praia, no RJ. Eu comia e adorava com letie condensado por cima.
    Quanto à estampa que viu no avental do blog eu aprendi, com a minha amiga Helga, a usar papel transfer. Qualquer dia quero fazer um post ensinando a usar, pois você imprime fotos, logotipo, desenhos, qualquer coisa que você cria ou busca na net, salva em seu computador, trabalhe o tamanho da foto (ou desenho, ou letra, o que quiser, e imprimi nesse papel especial (na Kalunga tem). Chama papel transfer. Imprimi como espelho. Depois recorta a figura impressa e passa para o tecido, como um decalque.
    Beijos

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    1. Adorei a dica do papel transfer e até já fiz uma camiseta pro meu garoto. Obrigada pela dica, Helena querida! Beijos!

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  12. Oi Rosa! Olha eu de novo! Comentei na sua outra tapioca agorinha e aí vi esse post. Por aqui, no dia-a-dia a gente faz essa com manteiga por cima que é mais rápida de fazer mas tem a bem-casada que o côco fresco ralado vai na massa e no recheio e a recheada de queijo coalho...nas tapiocarias vc encontra outros sabores como carne-de-sol ou morango com chocolate, côco com leite condensado...huuum, é uma perdição! Tô salivando aqui só de lembrar! Fiquei desejando...:) Bjks querida!

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    1. Adoro! Que sortuda que você é, tendo tapiocas no dia a dia... Aqui é só de vez em quando, que meus filhos são vigilantes do meu peso...

      Beijos!

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  13. Hummm... aqui também adoramos tapioca.
    Não sabia que dava pra fazer usando o polvilho azedo peneirado, muito legal!
    Obrigada pelos ensinamentos.

    Com água na boca deixo meu abraço,

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    1. Experimenta fazer, Judy querida! Você vai adorar, é muito fácil e gostosa. Beijos!

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