Há muito tempo atrás existia um vilarejo onde reinava a paz e a harmonia. Seus moradores acordavam com alegria, fizesse chuva ou fizesse sol, trabalhavam, conversavam, riam e se alimentavam - e em meio a todos os seus afazeres diários eram uma gente feliz e que prosperava.
Muito disso, em parte, se devia à pregação de um santo homem, que lhes ensinava as palavras de Deus. Ele mesmo - que nada tinha de seu e nem ambicionava nada - vivia de maneira irrepreensível aos olhos do Senhor, exortando todos à fé no Criador e à caridade para com os semelhantes. Em face disso, a cada dia granjeava ele mais e mais discípulos...
Certo dia chegou naquela cidade um astrólogo, adivinho, feiticeiro - não importa o nome que se dê a ele; o fato é que era um homem de certo poder advindo das trevas de sua própria alma. Extremamente ambicioso, viu naquela pequena vila um ambiente propício para ganhar fartamente sua vida, semeando o medo, colhendo credulidade...
Entretanto, por mais que oferecesse seus préstimos de porta em porta e nas praças, não havia uma só pessoa que desejasse fazer uso de seus serviços.
Percebendo ele que só a custa de desmoralizar a religião local é que conseguiria alcançar aqueles corações, estabeleceu-se na praça e, à vista de todos, fez uma funesta predição a respeito de dois dos discípulos do homem santo, que saiam naquele momento em direção à floresta, para colher lenha.
"Vocês dois jamais voltarão vivos desta floresta: minhas predições o dizem. A Morte irá colhê-los antes do cair do dia."
Isso não dissuadiu os discípulos, que foram calmos e conscientes cumprir sua obrigação.
Meia légua adiante encontraram um ancião, que se aproximou deles e lhes pediu alguma coisa prá comer. Ambos tinham apenas um naco de pão para dividirem entre si; mesmo assim, partiram-no em dois, deram o maior pedaço ao velhinho e seguiram seu caminho, coletando lenha.
Mais tarde voltaram para a aldeia e um camponês, que tinha ouvido a predição do feiticeiro, interpelou a este com ar de zombaria:
"Mais uma vez estavas errado. É falsa a tua astrologia... Eis que aqui estão - e bem vivos - os lenhadores..."
Não se conformando com o desfecho do caso e mordido de suspeita, pediu aos dois rapazes que desatassem o feixe de gravetos que traziam. Ao cortarem a corda que mantinha o feixe unido, eis que cai, do meio da lenha, morta e cortada ao meio, uma venenosa e mortal serpente.
"A Morte se aproximou de vocês" - declarou com firmeza o adivinho - "O golpe do destino foi desviado. Que fizestes para merecer que vos livrassem da morte certa?"
"Nada que saibamos" - respondeu um deles, com genuína inocência. "Durante a jornada encontramos apenas um velho faminto e a esse infeliz demos a metade do nosso pão."
Bradou então o astrólogo, apontando para os lenhadores e relanceando os olhos coléricos de um para o outro:
"Está tudo explicado, então! Que posso eu fazer, se o Deus de vocês se deixa influenciar por uma mísera meia fatia de pão?!"
(Fábula retirada do livro "Lendas do Povo de Deus, de Malba Tahan - adaptação minha.)
Tia Rosa, mais uma vez : Como vc é perfeita uma amiga que sempre auxilia pessoas que nem conhece. eu adoro tuas historias, colho muitas sementes delas, afinal o que seria do mundo sem um pouquinho de esperança não é? muito obrigada por compartilhar conosco tua vida, tua jornada e teu amor! até a proxima.
ResponderExcluirAi, Clícia... Adorei o que você disse de mim (e queria muito que fosse verdade...). Tô só caminhando, como todo mundo. Um beijão e muito obrigada mesmo!
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