quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O Amor e o Velho Barqueiro

Chegando, afinal, à margem do grande rio, o Amor avistou três barqueiros que se achavam indolentes, recostados nas pedras. 


Dirigiu-se ao primeiro:

- Queres, meu bom amigo, levar-me para a outra margem do rio?

Respondeu o interpelado, com voz triste, cheio de angústia:

- Não posso, menino! É impossível para mim!

O Amor recorreu, então, ao segundo barqueiro, que se divertia em atirar pedrinhas no seio tumultuoso da correnteza:

- Não. Não posso - recusou secamente.

O terceiro e último barqueiro, que parecia o mais velho, não esperou que o Amor viesse pedir-lhe auxílio. Levantou-se, tranquilo, e, estendendo-lhe, bondoso, a larga mão forte, disse-lhe:

- Vem comigo, menino! Levo-te sem demora para o outro lado.

Em meio da travessia, notando o Amor a segurança com que o velho barqueiro barquejava, perguntou-lhe:

- Quem és tu? Quem são aqueles dois que se recusaram a atender ao meu pedido?

- Menino - respondeu, paciente, o bom remador - o primeiro é o Sofrimento; o segundo é o Desprezo. Bem sabes que o Sofrimento e o Desprezo não fazem passar o Amor...

- E tu, quem és, afinal?

- Eu sou o Tempo, meu filho - atalhou o velho barqueiro. - Aprende para sempre esta grande verdade: só o Tempo é que faz passar o Amor!

E continuou a remar, numa cadência certa, como se o movimento de seus possantes braços fosse regulado por um pêndulo invisível e eterno.

Sofrimento, desprezo... Que importa tudo isso ao coração apaixonado? O Tempo, e somente o Tempo, é que faz passar o Amor...

(Malba Tahan)
Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Todos comentários são moderados pelo meu filho para evitar spam. Se você postou um comentário e ele ainda não apareceu, aguarde mais 24 horas. Obrigada!