Esta não aconteceu comigo - mas me foi passada em primeira mão, por uma pessoa que admiro infinito...
Ela fazia estágio no Teatro Municipal, no centro de São Paulo. Era a bilíngue da turma, recepcionando turistas e visitantes, mostrando, além do Teatro em si, também o Museu do Teatro. É tão inteligente e dedicada - nada faz de mal gosto, nada faz pela metade... Quando começou a trabalhar não se ateve ao treinamento básico do Recursos Humanos do lugar: leu livros na biblioteca, pesquisou na internet... Fazia tudo com a maior boa vontade do mundo!
Revezava o serviço: um dia no Teatro, um dia no Museu, como todo mundo, seis dias na semana - folga só de segunda-feira... Às vezes trabalhava à noite, quando tinha peça, ópera, ballet. Salário de estágio - mínimo. Boa vontade para com tudo e todos - máximo.
Numa das noites de apresentação lá estava ela, quase dez horas da noite, acompanhando os espectadores pela saída, cortesias, sorrisos... Fica uma senhora prá trás, meio tímida, desconcertada... Minha Lola (pois era ela...) pergunta se está tudo bem e começam a conversar, "Como o espetáculo havia sido lindo", "Que era a primeira vez que vinha, era de outro Estado...". Em meio à conversa a mulher diz que era seu aniversário, que havia se dado de presente a viagem para São Paulo...
Minha Lola então - com aquele jeito carinhoso e acolhedor que Deus lhe deu - sentindo uma tristeza embutida nas palavras, aproximou-se da mulher e, como se fosse uma pessoa querida da família, a abraçou sem cerimônia e lhe desejou "Feliz aniversário!", "Muitos anos de alegria, repletos de saúde e felicidade!".
A mulher começou a chorar... Disse que aquele tinha sido o único abraço que tinha recebido pela data, que se sentia tão sozinha no mundo...
Minha Lola então disse à senhora que ela estava certa de viajar, de se dar de presente conhecer um lugar novo e lindo... Que solidão nunca tem que ser um estado permanente na vida - o mundo tá cheio de gente, só temos que sair e conhecer um monte delas e, dentre todas, com certeza vão surgir amigos.
A mulher tinha passagem de avião marcada para aquela noite. Minha Lola foi com ela até o ponto de táxi - pois disse que era perigoso uma senhora andar sozinha pelo centro de São Paulo, àquela hora (e eu pergunto: não era perigoso prá você, Lolô minha alma, voltar sozinha até o Teatro e caminhar sozinha até a estação de metrô, depois de levar a mulher até o ponto de táxi? - ao que ela me responde: "Deus protege, mãe"...). Na despedida, a mulher disse que conhecer minha filha tinha sido, verdadeiramente, o melhor presente que tinha recebido nos últimos anos...
Quando fomos pegar a Lola no metrô Penha, o "Marildo" e eu, ela estava meio tristonha, pensativa e, questionada a respeito - se tinha acontecido algo ruim - ela nos contou essa história. Disse "Como deve ser triste ser sozinho no mundo, né mamãe?... Passar o aniversário assim, sem ninguém prá abraçar, recebendo somente o abraço de uma estranha..."
Pois é - eu pensei - mas Deus colocou na frente dela a estranha certa...
(E, se me permitem sugerir um filme prá este fim de semana, que tem muito a ver com a solidão e os rumos da vida na terceira idade, vejam "O Exótico Hotel Marigold" - bom demais. Um bando de idosos num hotel capenga na Índia, recomeçando a vida, abandonando preconceitos, fazendo as pazes com o passado e descobrindo o amor...)
(E, se me permitem sugerir um filme prá este fim de semana, que tem muito a ver com a solidão e os rumos da vida na terceira idade, vejam "O Exótico Hotel Marigold" - bom demais. Um bando de idosos num hotel capenga na Índia, recomeçando a vida, abandonando preconceitos, fazendo as pazes com o passado e descobrindo o amor...)
Lindíssima a história ... maravilhosa a sua Lola!
ResponderExcluirBem haja!
Beijinhos
Obrigada, Deus a fez maravilhosa mesmo... Beijos.
ExcluirTriste essa história,e como sua filha foi digna, realmente Deus colocou ela no lugar certo, pois Ele conhece bem seus filhos!
ResponderExcluirO filme assisti coincidêntemente semana passada, muito divertido e faz a gente parar para pensar.....
Bjus e um bom fim de semana.
Triste mesmo... Às vezes a gente sente solidão apesar de estar cercado de gente - talvez o pior tipo de solidão. Agradeço a Deus por minha menina tenha tido a oportunidade de estar no lugar certo e na hora certa, prá ajudar um pouquinho... Beijos.
ExcluirSabe, Rosa, que esse sempre foi e ainda é um grande medo que eu tenho? A solidão. E por terem tido brigas na família do meu marido, que é bem grande, hoje me sinto isolada deles. E moro perto deles e longe da minha família de sangue. Digo isso porque acho que família às vezes, é um vizinho, um amigo...Na família do meu marido, é difícil se perdoar. É tanta inimizade e por isso me sinto sozinha. Talvez não como essa senhora, mas...Enfim, que façamos a nossa parte para que de nós se acerquem pessoas boas como Lola, você e toda sua família. Bj grande!
ResponderExcluirMedo da solidão - quem diz que não tem, não sabe do que está falando... Mas o jeito é seguir vivendo, enchendo a vida de experiências, conhecendo gente, falando, ouvindo - e torcendo para que tudo isso venha a nos valer na hora da precisão, não é mesmo? Beijos e bom final de semana.
ExcluirOi Rosa querida!
ResponderExcluirMenina, Deus caprichou quando fez a tua família, hein....
Que Deus abençoe a você e especialmente a tua Lola, que tesouro de filha!
Linda história, amei.
Obrigada pelas dicas de filmes! O Exótico Hotel Marigold é maravilhoso! Tem um post de le lá no blog, Vou procurar aquele dos restaurantes, não conhecia.
Bjs e ótimo final de semana
Tesouro de filhos - todos os três, a tirarem prá fora o que de melhor eu tenho e nem sabia... Obrigada pela gentileza de sempre, doutora Cris, e um ótimo final de semana. Beijos!
ExcluirA solidão realmente é algo que não dá pra gente brincar com ela. Parabéns por seu espírito de solidariedade, Lola.
ResponderExcluirCadinho RoCo
Minha Lola agradece a gentiliza, "seu" Cadinho.
ExcluirRosinha, a natureza não dá saltos e a Lola é assim porque tu e o pai também são.
ResponderExcluirSou muito sensível à incapacidade dos nossos idosos e ao pouco caso que deles fazem. Assim como sou em relação às crianças e aos animais. Torço sempre pelo mais fraco, sempre.
Um grande beijo
Vindas desse seu imenso coração essas palavras são muito bem vindas. Um beijo, Nina querida.
ExcluirRosa, sua Lola tem a quem sair: você e seu marildo são pessoas amorosas, de bom coração, e isso vocês passaram para seus filhos, não só nos genes, mas principalmente nos ensinamentos do dia a dia. Parabéns!
ResponderExcluirbeijos
Obrigada, Luci, você é muito bondosa. Beijos.
Excluirfilho de peixe, peixinho é.
ResponderExcluirbeijos na Lola - até o nome é doce.
Helena
Ah, Helena, é apelido! Dei um nome lindo e acabei arrumando ainda o apelido... Beijos, minha querida.
ExcluirMinha mãe criou a mim e a minha irmã dizendo que quem faz o bem recebe o bem...
ResponderExcluirSua filha receberá em dobro todo o afeto que dedicou a esta senhora.
Não sei explicar este sentimento que enche nosso peito ao ver certas atitudes de nossos filhos. Nós passamos amor, valores, etc... mas até que ponto eles absorvem tudo isso? E nestas horas temos a resposta.
Maravilhosa semana a vc e a esta família linda.
Beijo.
É, eles acabam superando as nossas expectativas às vezes, não é mesmo? Vão além do que a gente ensina e nos superam. Tenho certeza de que, em sua casa, é assim também... Beijos e obrigada.
ExcluirQue lindo, Rosa! Uma maravilhosa lição de vida... Obrigada por compartilhar.
ResponderExcluirBeijos
Obrigada, Sônia. Também achei uma lição prá mim - a gente, como mãe, acaba aprendendo muito com eles. Beijos.
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