segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Resignação



“Deus dá, Deus tira. Bendito seja o Seu Santo Nome”...

Ao anoitecer de um sábado, um rabi, mestre de invejável cultura e admirável bondade, entretinha-se na escola pública ensinando a Santa Lei a seus discípulos, sem imaginar que em sua casa, a tristeza e o luto haviam se hospedado.



Dois de seus filhos haviam morrido enquanto trabalhavam, pastoreando ovelhas no alto de um monte e a mãe chorava inconsolável, aos pés dos dois cadáveres. Mesmo petrificada pela dor, vinha-lhe à mente o pobre e idoso marido, cuja saúde a preocupava tanto,  que logo iria defrontar o tremendo espetáculo. 

O respeito à vontade divina e a caridade de esposa deram-lhe, porém,  grande força de alma.

Cobriu com um lençol os filhos e, orando, pôs-se a esperar o marido.

À noite, mal entrou em casa, o marido indagou pelos filhos. A esposa, com o rosto lavado de lágrimas, desviou dele seus olhos e, com uma desculpa qualquer, serviu-lhe o vinho e o círio para a prece. O marido cumpriu o ato religioso e insistiu em saber dos filhos. Com mais uma desculpa, a mulher ofereceu ao marido, há muitas horas em jejum, umas fatias de pão. O marido provou um pedacinho e a questionou porque parecia tão triste.

Armando-se de coragem, com um respirar profundo a esposa disse:

- Eu, meu marido, preciso muito de um conselho teu. Já a algum tempo,  um nosso amigo me procurou e deixou sob minha guarda algumas joias, extremamente valiosas. Veio hoje reclamá-las. Ai de mim! Não contava que viesse tão cedo. Devo restituí-las?

- Ó minha esposa! Estou a desconhecer-te! Essa sua dúvida é pecaminosa!

- Mas já me afeiçoei  tanto a elas...

- Não te pertencem!

- Queria-lhes tanto bem... Talvez tu também...

- Ó mulher! - exclamou atônito o marido. Que dúvidas essas suas! Que pensamentos! Querer apropriar-te do que não te pertence, sonegar um depósito, coisa sagrada!

- É assim que pensas? balbuciou a esposa, chorosa.

Enxugando os olhos e novamente buscando forças em seu coração, disse a mulher:

- Muito preciso de teu auxílio para fazer esta dolorosa restituição. Vem ver as joias depositadas, que ambos fomos chamados a restituir.

Suas mãos geladas tomaram as mãos do marido e o levaram ao quarto onde os filhos se encontravam. Ergueu os lençóis e disse:

- Aqui estão as joias. Reclamou-as Deus!

Em sua mútua dor, um encontrou no outro o ombro para chorar e aceitar, com resignação, os insondáveis (mas sempre misericordiosos) desígnios de Deus.

(Malba Tahan...)

Gostou? então, se você está com um tempinho, checa o marcador "historinhas" aí do lado... Tem muita coisa linda.
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4 comentários:

  1. Rosa, Rosa... esta me fez chorar, pois realmente não há joias mais preciosas e que tomamos como nossas.
    Um beijo e outros mil beijos nas suas joias.

    Mirian Amorym

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  2. Rosa

    Essa é uma lição do amar sem apego que é difícil quando se trata de nossos filhos. Principalmente porque achamos que os filhos são posse nossa mas a verdade é que ninguém é de ninguém e quando Deus nos confia - na condição de pai e de mãe - algum (ou alguns) filho(s)aos nossos cuidados...na verdade estamos sendo babás dos filhos de Deus.

    Demorei um pouco para aceitar isso mas quando aceitei essa verdade, ficou mais fácil deixá-los independentes seguindo a vida deles após se tornarem maiores de idade mas acho que eu e nenhum pai ou mãe está preparado para deixar ir um(a) filho(a) através da morte física.

    Esse texto é para refletirmos muito bem.

    Bjs
    Fátima Ventura

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  3. Penso que talvez seja a maior dor que um ser humano possa sentir... Que Deus abençoe a todos e ilumine nossos corações para enxergarmos seu amor mesmo nas mais difíceis provas da vida. Um abraço.

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