sexta-feira, 6 de maio de 2011

"O Príncipe e os 3 pratos de arroz"


Era uma vez, há muito tempo atrás, um Príncipe que devia se casar para que pudesse - um dia - governar o reino. Seu pai - o Rei - e sua mãe já estavam velhos e insistiam para que o Príncipe arrumasse logo uma esposa e lhes desse netos, enquanto ainda tinham saúde para mimá-los. 


O Rei sugeriu, então, dar um baile e convidar as princesas de todos os outros reinos e ver se assim o Príncipe escolhia uma delas para esposa. O Príncipe, entretanto, já conhecia a maioria delas e não ia com a cara de nenhuma. Assim sendo, disse para seu pai que preferia escolher uma moça do seu próprio reino, que amasse o país e falasse a mesma língua do povo, pois isso para ele importava mais do que ter sangue real. 

O Rei, então, por amar muito filho e querer ser avô o quanto antes, concordou e deu um prazo de um mês para o Príncipe escolher sua futura princesa.



Desse dia em diante o Príncipe começou a passear pelo reino, conversando e fazendo amizade com muitas moças e acabou ficando meio balançado por três delas, sem saber qual delas escolheria. Como seu pai estava em uma viagem e ele não tinha coragem de falar desses assuntos com sua mãe, resolveu confiar seus sentimentos ao seu antigo tutor e mestre, o Conselheiro Real. Depois de pensar um pouco, o Conselheiro Real disse para o Príncipe:



-"Vossa Majestade deve levar na casa de cada uma das moças um prato de arroz cru, e marcar um dia para passar de novo na casa dela para comer o prato que a moça vai preparar com ele."


-"Mas, Conselheiro, vou escolher uma Rainha simplesmente baseado em seus dotes culinários?"

-"Também, mas só que, antes, você vai esconder um pequeno e raro diamante em cada prato, junto com o arroz cru..."

Feito isso, o Príncipe entregou cada prato de arroz para cada moça e marcou de ir comer na casa de uma na terça, de outra na quarta e da última na quinta-feira.

A primeira moça, quando foi escolher o arroz para fazer o prato, achou o diamante, ficou muito feliz e não disse absolutamente nada. 

Preparou um delicioso pudim de arroz para o Príncipe, o melhor que ele já tinha provado, mas nem falou em diamante...

Quando o Príncipe voltou para o palácio, o Conselheiro lhe perguntou como havia sido, e que fim havia tido o diamante.

-"O pudim foi o melhor que eu já comi, ela é uma excelente cozinheira, mas eu não sei dizer o que aconteceu com o diamante, porque ela não falou e eu não perguntei..."

-"Essa moça não serve para ser a futura Rainha, é desonesta. Afaste-se dela, Alteza.

A segunda moça, escolhendo o arroz para fazer o prato, achou o diamante e - mais do que feliz - mandou incrustá-lo em um anel. Quando o Príncipe chegou, ela lhe apresentou uma deliciosa torta de arroz, macia como um suflê, cheinha de queijo e mostrou-lhe, vaidosa, o anel feito com o diamante achado no arroz e disse:

-"Vê, Majestade, como sou sortuda? Achei um diamante junto do arroz. Até pensei em devolvê-lo ao senhor, mas o senhor já é tão rico, não é mesmo, que pensei que não daria pela falta de um diamantezinho à toa como esse..."

Quando retornou ao palácio e contou ao Conselheiro o ocorrido, ouviu dele:

-"Essa moça também não serve para ser Rainha, Majestade, pois, apesar de honesta, é gananciosa e egoísta, só pensa nela..."

No dia seguinte, quando chegou na casa da terceira moça, já desacorçoado pensando que jamais conseguiria encontrar sua Rainha, encontrou a casa alegre, cheia de visitas que, entre risinhos, se retiraram cortesmente quando de sua chegada. O lugar estava repleto dos mais deliciosos cheiros que o Príncipe já tinha sentido, e, na mesa, dezenas de pratos apetitosos esperavam para serem apreciados: perus e pernis assados, tortas, empadões, suflês, massas, pudins e biscoitos dos mais variados tipos...

Surpreso, o príncipe disse:

-"Eu não sabia que a senhorita iria dar uma festa nesse dia, senão teria marcado para comer o prato com o arroz que eu mandei para outro dia..."

-"Mas tudo isso foi feito com o prato de arroz que o senhor me deu, Majestade!"

-"Mas, como?!"

-"Aconteceu que, quando eu escolhia o arroz, encontrei nele um diamante. Ora, achei que o senhor, sendo acostumado a comer os pratos preparados pela maravilhosa cozinha real, apreciaria um jantar de verdade e não apenas um prato feito com arroz. Aliás, fiz pudim de arroz, bolinhos de arroz e torta de arroz com queijo, se for do seu agrado. Bom, como eu só iria receber meu salário amanhã, não tinha dinheiro para lhe preparar o jantar de acordo, então, fui ao banco e empenhei o diamante, conseguindo assim o dinheiro para todos esses ingredientes.

Entretanto, quando eu estava preparando todas essas gostosuras, minhas vizinhas sentiram o cheiro e, entrando na minha casa, perguntaram se eu não lhes ensinava a cozinhar tão bem quanto eu. Cobrei um pequeno valor de cada uma delas, que acabaram de sair daqui - depois de aprender - todas satisfeitas e felizes, como o senhor mesmo viu... 

Ah, e aqui está o seu diamante, Majestade, que agora a pouco resgatei lá do banco!"

Depois de passar uma das tardes mais agradáveis de sua vida, conversando e rindo, o Príncipe chegou no palácio e contou o que havia acontecido.

-"Case-se com essa moça, Majestade, antes que outro o faça! Ela não apenas é honesta, como também divide o que sabe e é também uma boa administradora, além de ser uma excelente cozinheira. Essa sim, será uma verdadeira Rainha!"




(baseado em um conto do escritor brasileiro Malba Tahan - adaptação minha...)
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