quinta-feira, 26 de setembro de 2013

As outras rosas...


"Aquilo que chamamos rosa, com um outro nome seria igualmente doce"
                                                       William Shakespeare


Minha vida inteira, vez por outra, sempre apareceu alguém prá me dizer que eu era exatamente igual a uma pessoa que eles conheciam...

Ainda pequena, já na escola primária, uma menina me disse que eu era igualzinha a uma prima dela. Tempos depois eu era idêntica  a vizinha de alguém que mudou prá longe, a irmã caçula do namorado de um outro alguém ou então eu era "a cara cuspida e escarrada" de uma menina que estudou com a tia de uma outra pessoa...

Aprendi então que Deus, quando me fez, não primou pela originalidade - tem uma porção igual a mim circulando por aí (devo ser um tipo de modelo econômico...). 

No segundo grau eu frequentava a casa de uma colega de classe, chamada Cida (que todo mundo chamava de "Cidona", pois era um bicho na quadra de volei, metendo medo em todas as outras classes...) e a irmã dela jurava de pé junto que eu devia me chamar Rita, pois era a cara de uma Rita que ela tinha conhecido quando trabalhou na Fábrica da Santista. Quando trabalhei na Previdência Social, uma amiga minha - que durante algum tempo foi minha chefe - dizia que eu era a cara de uma amiga dela chamada Mônica, de Bragança Paulista...

Certa vez uma moça que trabalhava comigo disse pro Marildo que não sabia o que ele via em mim - eu era tão sem sal nem açúcar, parecia comida de hospital, sem tempero nem nada, própria só prá quem é doente do estômago (e a resposta que ele deu foi uma das coisas mais lindas que alguém já disse de mim - mas essa seria uma outra história, prá um outro dia, quem sabe...).

Pois é... Essa sou eu - comum e sem graça...

Daí um dia, minha mãe, uns 3 ou quatro anos atrás, estava voltando de uma consulta médica juntamente com meu irmão e, ao invés de ir prá casa dela (que é duas quadras antes da minha), veio apressada prá minha casa dizer que tinha encontrado minha sósia:

"Filha, eu te juro que ela era igual a você: o rosto, usava óculos, até penteava o cabelo igual você penteia! Até mesmo o tipo de vestido que você usa ela tava usando - eu fiquei olhando, disfarçada, não querendo muito dar na vista... Ela desceu um ponto antes da gente, lá perto do Cemitério da Penha. Eu acho que teu pai deve ter "pulado cerca"..."

Eu até podia por em dúvida essa opinião dela - afinal ela tá velhinha, já não enxerga bem faz tempo - mas meu irmão concordava com a cabeça, dando risada da minha cara...

                   ***

Duas semanas depois um ladrão tentou entrar na minha casa, pulando o muro da casa do vizinho. O máximo que ele levou foram algumas roupas do varal - e, ao tentar roubar sei-lá-prá-quê a antena da TV por assinatura, a deixou pendurada. 

Ao atender no portão o técnico da Sky prá fazer o reparo, a primeira coisa que o rapaz disse foi: 

"A senhora tá morando aqui, agora?"

"Como?" - eu perguntei...

"A senhora não morava ali naquela rua, prá trás do cemitério?"

"Não, eu moro nesta casa desde 1992..."

"Sério?! Puxa, eu podia jurar que era a senhora... Então a senhora tem uma irmã gêmea ou algo assim, morando lá praqueles lados, não tem?"

"Não que eu saiba..."

                  ***

Os alemães tem um personagem folclórico em suas crenças, um ser que representa uma cópia idêntica de uma pessoa, imitando até mesmo as características mais profundas dela: o Dopplegänger, o duplo ou sósia que cada um tem no mundo. Segundo a crença deles, no dia em que encontramos nosso duplo - nesse dia, nós morremos...

Como se não bastasse eu ser tão a cara da Chiquinha do Chaves, ainda tem que ter uma Mônica em Bragança Paulista, uma Rita sei-lá-onde e - pior ainda! - essa tal mulher que mora a menos de um ponto de ônibus da minha casa! 

Acho que tem Dopplegängers meus demais andando por aí...

Assim como qualquer ser humano do planeta eu adoraria pensar que sou única e exclusiva - mas, aposto que, se eu colocasse no blog uma foto minha, um montão de gente ia dizer: "Mas será o Binidito! Dona Rosa é a cara da Fulana!!!" - e lá se vai mais um bom motivo prá manter minha carinha bem anônima, não é mesmo?

Apesar disso, otimisticamente, decido pensar que talvez (porque não?!) eu não seja somente um modelo econômico de Deus: talvez eu seja uma fórmula que deu certo e que - por isso - foi repetida tantas e tantas vezes!

É... Acho que prefiro pensar assim... 

Afinal de contas, mesmo sem ter nascido com o "rosto que lançaria mil navios ao mar", mesmo sem ter a voz ou o talento que faria alguém querer me ouvir cantar fora do chuveiro ao invés de ouvir Adele e mesmo que meu QI não seja lá grande coisa, tudo o que eu vivi, tudo o que eu observei, tudo o que eu sonhei e conquistei  e tudo o que eu perdi fazem de mim a única de minha espécie (igual aos bilhões e trilhões e fantastilhões de seres únicos que habitam, habitaram e vão habitar este pequeno ponto azul do Universo)... Uma única Rosa, como nunca houve, nem nunca haverá igual no mundo... Mesmo se Rosa não fosse meu nome...

Agora: que fiquem longe de mim a Mônica de Bragança Paulista, a Rita de sei-lá-onde, a prima da menina que estudou comigo no primário, a vizinha daquela outra e, especialmente, aquela uma que minha mãe e meu irmão viram - que eu, de minha parte, nunca mais vou até o centro da Penha caminhando por detrás do Cemitério - salvando, assim, a vida dela e a minha... 

Deus nos livre e guarde...

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14 comentários:

  1. Pois é Rosa! Sofro desse mesmo problema! Tem umas três de mim rodando por aí!
    Beijos!

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    1. Então carrega um óculos escuros na bolsa e, se uma delas aparecer dá uma disfarçada - eu não posso fazer isso, pareço um ET de óculos escuros (hi, hi, hi...).

      Beijos!

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  2. ...kkk...também espero que você não encontre as sócias tão cedo!!...kkk...

    Pois comigo, ao longo de minha vida, dificilmente alguém disse que sou parecida com outra pessoa...kkkk...

    Tenha um ótimo dia,

    beijinhos,

    Lígia e =ˆˆ=

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    1. Que bom que você é original, Ligia querida! Tem gente assim mesmo: Deus só faz uma vez e perde a receita (uma pena - o mundo seria melhor com dúzias de você...).

      Beijos!

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  3. Bom dia querida Rosa!
    Todos os dias passo aqui leio, leio me emociono com suas historias, dou gargalhadas que um dia achei que jamais as faria. Você me emociona, me alegra, contribui para que um pedacinho do meu dia fique completo... Se esse negocio de "Doppl egängers" for real rsrsrs que Deus te deixe bem longe dessa turma toda que fisicamente pode ser igual a você.... Mas sabemos que igual a Rosa guerreira que escreve nesse blog, compartilha, ama, chora e é muito feliz, só você mesma querida... beijos de bom dia.

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    1. Obrigada, Xislândia querida, fico muito feliz em saber que consigo te emocionar. Que Deus te abençoe.

      Beijos.

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  4. Oi Rosa, não sei se sou parecida, mas as pessoas quando me vêem ,juram que já me conhecem,rsrsrs.A duas semanas a colega de turma que entrou agora , falou que já me conhecia, eu vou assim pela vida afora juntando mts conhecidos que nunca vi,rsrsrs.Sempre digo" Não te conheço, minha cara é mt comum,rsrsrs, todo mundo se parece,rsrs"
    Adorei a história.Bjus!!!Liege

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    1. Então você deve ser mais ou menos como eu: comum, mas única, diferente de todo mundo, mas igual a uma porção de gente...

      Beijos e um lindo final de semana, Liege querida!

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  5. a uns anos atrás estava em uma quermesse e apareceu uma mulher do nada me abraçou e beijou falou nossa vc aqui? eu e meu marido não entendemos nada pois não fazia ideia de quem era a pessoa, com certeza ela me confundiu com alguém kkkkkkk, ah eu gostaria de ver seu rosto, guardar na lembrança junto com as receitas historias afinal a senhora nos ensina tanto, e tomara que seja só uma lenda. beijocas.

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    1. Ah, nunca ganhei um abraço por esse motivo...

      Mas, nem que eu quisesse, o Marildo não ia deixar eu publicar uma foto minha...

      Beijos!

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    2. que pena, mais se um dia ele mudar de ideia.......

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  6. Rosa, você é única no mundo! lembrei daquela passagem quando o Pequeno Príncipe se depara com milhares de rosas iguais a dele e depois ele nota que a dele é única.
    Beijos

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    1. Que lindo, Helena querida! só você prá me associar com essa rosa...

      Beijos e uma linda semana!

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  7. Oi Rosa não te preocupas não devo ser parecida contigo, mas levo comigo o mesmo teu nome , sim Rose é ROSA , portanto somos xarás. Rose Mary na pronúncia em português é Rosa Maria. Mas isto não é novidade há muitas Rosas por todos os lados. Não conheço o teu perfil mas conheço talvez o muito de tuas habilidades e posso te elogiar de coração que te admiro muito por tudo compartilhas com tanto carinho e dedicação. Sempre tua admiradora e salvadora de tuas receitas maravilhosas o meu muito obrigadoooo! Mil beijos e mil abraços.

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