terça-feira, 6 de agosto de 2013

Rosa Rural

"O nascimento da bezerra"

Eu fazendo tricô, sentada na cadeira de balanço, enrolando prá começar a fazer o almoço em plenas 10 horas da manhã... Um friiiiio de atravessar minhas carninhas e esfaquear os ossos - mas a lareira acesa logo cedo, que eu não sou nada boba...


O "Marildo" lendo algum livro daqueles que falam da Segunda Guerra Mundial - sabe tudo, podia até dar aulas do assunto...

A caseira, dona Margarida, começa a gritar: "Acuda! Acuda! Os corvos!"

O "Marildo", de reflexo rápido, correu lá fora, de chinelo mesmo, e voltou correndo prá calçar as botas - havia nascido um bezerro no meio do pasto, e mais de 30 corvos estavam atacando o bichinho!

Fui calçar as minhas botas também - embora me borrando de medo, batendo elas de ponta cabeça prá ter certeza de que não tinha aranha (as dali tem o traseiro do tamanho de azeitonas pretas e as pernas cheias de farpas - um horror!) ou escorpião escondido dentro pois ali, volta e meia, aparece uma surpresa ruim dessas...

O caseiro (seu Zé) havia dado uma saída de charrete e a esposa, sozinha, não sabia o que fazer... 

Ela é assim: tem o "dedo verde", sabe fazer pegar muda de tudo, brotar qualquer semente, mas, na hora de lidar com os bichos, fica sem ação - morre de medo. Olha ela ali, de jaqueta mostarda, bem longe da ação:

E eu me chegando, devagar prá não assustar, com a câmera na mão...

O "Marildo", que não quis sair nas fotos, já havia espantado os corvos, que voaram práquela faixa verde escura no fundo, de Mata Nativa, que faz divisa do nosso sítio com a fazenda de um dos vizinhos.  Disse que eram tantos! Um deles não queria ir embora de jeito nenhum, o maior de todos - o "Marildo" acha que era o líder...
Eu continuei me aproximando - e o Marildo dizendo prá eu não chegar tão perto...
 Mais perto...
 e mais perto...
Me senti a própria Repórter da Natureza - me arriscando por uma foto boa!
 Eu fui indo devagarinho...
Sem movimentos bruscos...
A vaca me viu e não fez nada - acho que não sentiu ameaça vinda de mim - e olha que foto linda que eu tirei! 

Não tem nem quinze minutos de nascida!!! 

Eu fiz baixinho um agradecimento a Deus, por ter acrescentado mais essa experiência linda aos tesouros da minha alma. Fiquei ali, conversando com elas, mãe e filha, lembrando também dos meus momentos de trazer vidas ao mundo - tão diferentes e - ainda assim - tão semelhantes!!!
Ali, no canto esquerdo da foto abaixo, o filho mais velho da vaca - irmão da recém nascida (que é uma feminha...), que ficou o tempo todo rondando, rondando...
Enquanto a mãe dá umas lambidas na filhinha, dá uma espiada na maternidade:
Não tem enfeite pendurado na porta, mas é linda, não é mesmo...

Voltando ao que mais importa: a mãe vigiando a filha, que tá tremendo de frio. Por sorte, não nasceu dois dias antes: a temperatura tava 1 grau Celsius...
Primeira tentativa de levantar - a mãe de olho...
 Upa! Força!
Caiu... É assim mesmo, as perninhas ainda não tem firmeza...
Tentando de novo, com a ajuda da mãe... 

Enquanto a bezerrinha não se firmar e andar sem ajuda, é um perigo deixar ela sozinha, só com a mãe: os corvos voltam, atacam os olhos dela e ela morre. Estão todos lá nas árvores, esperando, vigiando...
Bom, a partir daí, fui cuidar da gororoba. A mãe, agora que a bezerrinha tá mais firme, arreia o peso no chão, cansada da hora do parto. De longe, os outros integrantes do pasto nem ligam: fora o irmão da recém nascida, o restante segue sua vida, pastando...
Duas horas da tarde: de barriga cheia e câmera na mão, lá vou eu ver como a bezerrinha tá passando. Seu Zé, o caseiro, já voltou e colocou ambas num pasto reservado especialmente prá elas, de mato alto e fofo, bem nutritivo. O irmão mais velho teve que vir junto, porque gritava de saudades da mãe (embora há muito tempo não mame mais).
Ali no canto, meio "no meio", um punhado de galhos secos que vão ser queimados... 
Eu querendo ultrapassar a cerca, prá ir lá fotografar de perto, de novo... O "Marildo" me segurando ("A vaca tá mais fortalecida agora, vai te atacar, mulher!")...
Dei zoom na câmera  - a mãe o tempo todo cuidando. A "menininha" já mamou bastante, agora estica as perninhas...

E - de repente - começa a andar, se afastando da mãe...
 A mãe vem vindo atrás...
 Vem se chegando - e eu tirando fotos:
Mais perto - parece que tava atendendo meu pedido!
O caseiro entra no pasto e ela para...
Parece perguntar prá mãezinha se pode ir ou se deve ficar...
A mãe dá uma analisada...
 E a bichinha recomeça...
Até corre! Clica na foto e dá prá ver o cordão umbilical ainda pendurado!
Incrível a vida, não é? Não tem nem cinco horas de vida e tá aí, andando pelo mundo, até correndo, respirando, ouvindo...
 Toda tímida vem se chegando...
Tenho certeza de que reconheceu minha voz, de poucas horas antes...
Então o "Marildo" tentou passar a mão na cabecinha dela, ela se assustou e fugiu!
Mas voltou, se virou no meio do caminho junto da mãe, prá dizer "Tcháu!".
E a minha Pequena, toda curiosa, de pé nas perninhas traseiras, espiando tudo...

Acho que ela, assim como eu, também não vai se esquecer...

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16 comentários:

  1. Que lindo, minha amiga!! A natureza é sempre sábia pois nosso Senhor é Pai, Pai nosso, Pai dos bichos todos, Pai de tudo que existe. Tudo que é da natureza me encanta. Fico encantada até com os sabiás comendo mamão no meu quintal, os cambacicas tomando banho no prato de planta, os passarinhos comendo no comedor dependurado. Fico feito boba, olhando, me encantando! Que sua bezerrinha tenha muita saúde e força para ter uma vida feliz. Que bom você poder participar de um acontecimento da natureza, mesmo que só fotografando. Coloco-me no seu lugar em poder presenciar o nascimento da "menina". Beijos, minha querida.

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    1. Que quintal lindo você deve ter, Ligia querida! Deve ser uma inspiração...

      Também tenho uns pezinhos de fruta no meu quintal, o que também me garante a visita de pássaros - não abro mão desse pedacinho de natureza perto de mim. Somos sortudas!

      Beijos e obrigada!

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  2. a natureza e linda mesmo. uma vez vi os filhotes de minha cachorrinha nascendo, tinha uns 9 anos e nunca me esqueci, os animais tem uma força incrível enquanto nos levamos 1 ano pra andar eles levam minutos, depois tem gente que diz que Deus não existe. bjs.

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    1. Nossa! Deve ter sido emocionante, assistir algo assim com apenas 9 anos - fica prá sempre na memória, não é mesmo?

      É... Quem não acredita em Deus não sabe de nada...

      Beijos e obrigada, Elisabete querida!

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  3. Rosinha querida, que fotos maravilhosas...
    Preciso te perguntar uma coisa, porque senti a maior aflição pela bezerrinha e sua mãe: vocês não criam essas belezinhas para virar bife depois, né?
    Bjs

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    1. É assim: o sítio é nosso, assim como os cavalos e as galinhas. As vacas e os bois são do caseiro, então não posso proibir ele de fazer o que bem quer, embora vivam do nosso pasto.

      No entanto, ele não costuma vender - cada um que nasce continua no pasto, por isso o rebanho dele tá crescendo. Infelizmente eu acredito que os machos ele acabe vendendo, com o tempo, porque brigam uns com os outros...

      Acho que, por isso, fiquei ainda mais feliz quando vi que era uma menininha - ela vai crescer e continuar ali, tendo filhinhos, produzindo leite, até quando Deus quiser.

      Beijos e obrigada pela preocupação.

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    2. Ai Rosa, acho os bovinos tão belos, não consigo entender como se pode comê-los, aliás, não consigo pensar em comer nada que tenha um rosto, um olhar...Mas entendo a sua situação.


      Pois é Rosa querida, quanto ao livro, se Deus é a fonte de tudo o que existe, então logicamente tem uma face feminina também, caso contrário, de onde teria surgido tudo o que é feminino no mundo, não é?
      Nas religiões orientais isto é melhor representado, pois os Deuses tem as suas esposas Deusas, simbolizando a união do masculino e do feminino sagrados. Mas aqui no Ocidente ficou essa história do Velho de barbas brancas sentado num trono.
      No entanto, na Bíblia original em Hebraico, há a palavra Shekiná (seria Sophia em latim) a face feminina e fonte de toda a criatividade de Deus, simbolizada por uma pomba branca. Mas nas traduções substituíram essa palavra feminina por Espírito Santo (masculino), mas conservaram o símbolo da pomba. Então a Santíssima Trindade que seria Pai, Mãe e Filho, ficou uma trindade exclusivamente masculina, que para mim fica esquisito demais, pois para ter filho precisa ter um masculino e um feminino...
      Mas já está começando a mudar, como a gente pode ver nesse lindo livro.

      Bjs querida e obrigada pela atenção em responder minha dúvida.

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    3. É, acho que ainda temos um caminho muito longo até entendermos Deus, não é mesmo, minha querida?

      Mas, no final das contas, mesmo se a maioria de nós não conseguir entender, mas continuar se esforçando prá ser uma boa pessoa, fazer o bem e amá-lo acima de tudo, estamos no caminho - eu acho...

      Beijos e obrigada pelos posts sempre tão interessantes!

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  4. Rosinha, que maravilha, bezerrinho novo, as fotos ficaram
    lindas, a mãe a afagar a cria, lindo, eu gosto da vida campestre ,apesar de viver na cidade, enfim, não podemos
    ter tudo o que gostamos, beijos amiga

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    1. É, acho que todos nós seríamos mais felizes se tivéssemos mais natureza em nossas vidas - faz um bem enorme...

      Beijos e obrigada, querida Mira.

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  5. Oi Rosa, a natureza é linda mesmo....eu e marido criamos gado,os machos são vendidos logo porque brigam muito entre si e comem muito, já as fêmeas reproduzem, aumentando o rebanho e tiramos leite para compradores fabricantes de laticínios.......temos vacas lá que já estão velhinhas mas a amamos tanto q não vendemos por dinheiro nenhum.......bjos Elaine...SP

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    1. Que lindo, Elaine! Você então vive a vida que a maioria de nós sonha em viver - Parabéns!

      Que você seja sempre abençoada com muita saúde, prá cuidar bem desses animaizinhos por toda a vida.

      Beijos!

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  6. Emocionante....gostaria de estar lá também, ver de perto o milagre da vida. Isso fortalece a gente. Vejo muito amor em volta de todos. Bjs

    Jeanne de Nova Iguaçu, Rj

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    1. Recarrega a pilha, sem dúvida...

      Beijos e obrigada por ter gostado!

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  7. Que privilégio vivenciar isso, Rosa. Experiência ímpar!

    Sem enfeite pendurado na porta, traduz a universalidade do amor materno...
    Deu dó de estar frio. Tão vulnerável.

    Eu não sabia que as coisas aconteciam assim, que os corvos podem comer seus olhos. Tudo natural. Cruel, mas natural.

    Obrigada pela linda postagem. Foste muito corajosa.

    bjs

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    1. Obrigada, Lia querida, foi um privilégio compartilhar.

      Beijos!

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